• Ilustrada

    Friday, 19-Apr-2024 16:23:12 -03

    David Grossman, cujo filho morreu em conflito, narra dor do luto em novo romance

    MORRIS KACHANI
    DE SÃO PAULO

    24/08/2012 03h16

    "Toda pessoa em vida passa pela experiência da perda de alguém muito próximo. Nessa hora é difícil achar palavras para expressar o que sentimos. Pensei muitas vezes que, em vez de escrever, queria era dar um grito que me cortasse em dois."

    Em entrevista à Folha, o escritor israelense David Grossman, 58, tenta explicar do que é feito seu novo livro, "Fora do Tempo", lançado pela Companhia das Letras.

    Em agosto de 2006, a dois dias de um cessar-fogo que encerraria a guerra com o Líbano, um foguete lançado pelo braço armado do Hezbollah atingiu o tanque em que Uri, 20, filho caçula de Grossman, então sargento do Exército israelense, estava com outros companheiros.

    Todos morreram.

    Por uma infeliz ironia, no começo daquele mês o escritor havia se manifestado contra o conflito e a favor de uma solução negociada, em uma conferência na qual estava acompanhado dos dois outros grandes nomes da literatura contemporânea do país, Amós Oz e A.B. Yehoshua.

    13.ago.06/France Presse
    O sargento Uri Grossman, morto em combate a dois dias do cessar-fogo com o Líbano, em 2006
    O sargento Uri Grossman, morto em combate a dois dias do cessar-fogo com o Líbano, em 2006

    "Sentei para fazer prosa e vi a poesia brotar. O livro é o resultado da tentativa de dar nomes a coisas que não tinham nome no começo", afirma Grossman.

    Em "Fora do Tempo", sua décima obra de ficção, morte e luto emergem como os temas principais.

    A narrativa é construída com o auxílio da parábola e entrelaçada de poesia.

    Narra a história de um pai que, depois de cinco anos, decide romper o silêncio e diz para sua mulher que partirá numa jornada "para lá", onde sente que o aguarda o filho perdido.

    "Seu vocabulário, meu filho --eu sinto-- vai diminuindo com o passar dos anos", diz o caminhante, a certa altura do livro.

    Estudioso da Bíblia, partidário da solução dos dois Estados e crítico ferrenho do governo atual, David Grossman também é jornalista.

    Escreveu inúmeros artigos, e também livros de não ficção, a respeito do conflito árabe-israelense.

    Para ele, Israel pratica ao mesmo tempo a democracia e o apartheid. "A vida aqui é dura; é como um trabalho em tempo integral", diz.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024