• Ilustrada

    Friday, 22-Nov-2024 18:39:34 -03

    Crítica: "Uma Confraria de Tolos" ridiculariza a banalidade moderna

    ANDRÉ BARCINSKI
    CRÍTICO DA FOLHA

    22/09/2012 04h29

    O escritor norte-americano John Kennedy Toole não viveu para ver o sucesso de "Uma Confraria de Tolos".

    Incapaz de conseguir uma editora para publicar o livro e sofrendo de graves crises de depressão, Toole cometeu suicídio em 1969, aos 31 anos.

    Sua mãe, Thelma, encontrou uma cópia do manuscrito entre os pertences do filho e brigou por muitos anos para conseguir uma editora. "Uma Confraria de Tolos" foi finalmente publicado nos Estados Unidos em 1980. No ano seguinte, Toole ganhou um Pulitzer póstumo.

    Desde então, o livro tornou-se um clássico "cult" da literatura satírica norte-americana, frequentemente comparado a obras de Mark Twain.

    A prosa ácida de Toole ganhou admiradores como o grande escritor chileno Roberto Bolaño, que citava o livro entre seus favoritos.

    "Uma Confraria de Tolos" começa com uma frase de Jonathan Swift, um dos autores prediletos de Toole: "Quando surge no mundo um verdadeiro gênio, pode-se identificá-lo por este sinal: contra ele se juntam em uma aliança todos os tolos".

    O personagem principal do livro, Ignatius J. Reilly, é um trintão obeso, glutão, flatulento e mal-humorado, que mora com a mãe e vive amaldiçoando o mundo moderno.

    Ignatius leva a frase de Swift a sério: ele é um anti-herói, deslocado do mundo e nascido na época errada, que se considera sempre perseguido por uma cambada de idiotas.

    Não é à toa que muitos críticos compararam Ignatius a Dom Quixote. Os dois personagens vivem sempre em conflito com o mundo "real".

    COMICIDADE

    "Uma Confraria de Tolos" se passa em New Orleans, nos EUA, nos anos 1960. É notável como Toole criou uma galeria de personagens cômicos inesquecíveis, mas que nunca se tornam folclóricos ou caricaturais.

    Seus encontros com "strippers", policiais incompetentes e idosos reacionários são engraçadíssimos.

    O personagem de Ignatius foi supostamente inspirado por um professor de Toole, mas tem muito de autobiográfico. Toole também sofreu com uma mãe dominadora e tinha uma visão ácida e pessimista do mundo.

    "Uma Confraria de Tolos" pode ser visto como uma metáfora ao deslocamento que muitos jovens norte-americanos vivenciavam nos anos 1960, período de conflitos sociais intensos no país.

    Ignatius é um cavaleiro solitário lutando contra um mundo que ele não entende e ao qual ele não acredita pertencer.

    É curioso pensar na recepção que o livro poderia ter tido se houvesse sido lançado nos anos 1960.

    Será que Ignatius se tornaria, para a década de 60, o que o personagem Holden Caulfield de Salinger foi para a de 50?

    UMA CONFRARIA DE TOLOS
    AUTOR John Kennedy Toole
    EDITORA BestBolso
    TRADUÇÃO Alice Xavier
    QUANTO R$ 19,90 (432 págs.)
    AVALIAÇÃO ótimo

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024