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    'O Hobbit' peca pelo exagero das fórmulas e diverte mais do que impressiona

    RODRIGO SALEM
    ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

    06/12/2012 19h38

    A primeira parte da trilogia "O Hobbit", iniciada por "Uma Jornada Inesperada" e prevista para estrear no Brasil na sexta-feira (14), deu certeza para uma desconfiança: a decisão de transformar um livro de menos de 200 páginas em três longas foi um exagero. A começar pela duração.

    Quase três horas é um exercício de narrativa desnecessário à obra. Assim como a projeção em 48 quadros por segundo, o dobro da velocidade normal (se você não quiser saber detalhes da história, pare de ler aqui).

    Apesar de garantir um 3D espetacular e uma fluidez inédita aos efeitos, a tecnologia causa estranheza quando dedica-se a cenas mais calmas --logo na abertura, estrelada por um Bilbo mais velho (Ian Holm, que viveu o personagem na trilogia "O Senhor dos Anéis" repete o papel), a impressão é que ocorre um erro de sincronia, que as imagens passam mais rápido que os diálogos.

    O incômodo desaparece quando o longa entra em sua função mais épica, com os lindos cenários que já vimos em "O Senhor dos Anéis". Esse reconhecimento prévio, contudo, talvez seja o grande pecado da primeira metade de "O Hobbit", que foca o jovem Bilbo (Martin Freeman, ótimo) em sua jornada com 13 anões que desejam recuperar seu reino distante das garras de um dragão.

    O diretor Peter Jackson abusa da repetição das fórmulas de sucesso que ele mesmo inventou. Por exemplo, há um grande "prefácio" que mostra a história do reino anão de Erebor, perdido para o poder do dragão Smaug (que nunca é mostrado inteiramente), assim como "A Sociedade do Anel" mostrava a história do Um Anel forjado por Sauron.

    A intenção do cineasta talvez seja de unir tudo em um grande filme no futuro. Isso explicaria as referências, mas não serviria de desculpa para a repetição --Gandalf (Ian McKellen) outra vez lança mão do recurso de falar com uma borboleta para chamar as águias em seu resgate, assim como fez em na trilogia anterior.

    Há algumas mudança substanciais em relação ao livro. Além de personagens como Radagast O Castanho (Sylvester McCoy) entrarem antes na trama para mostrar o surgimento de uma ameaça conhecida como "Necromante" (Benedict Cumberbatch, que não aparece de verdade no longa), que vem a ser o futuro vilão de "O Senhor dos Anéis", há liberdades criativas ousadas.

    Divulgação
    Cena de 'O Hobbit: Uma Jornada Inesperada', prelúdio de 'O Senhor dos Anéis
    Cena de 'O Hobbit: Uma Jornada Inesperada', prelúdio de 'O Senhor dos Anéis'

    A maior delas é o orc Azog (Manu Bennett), que não aparece no livro "O Hobbit" --apenas em apêndices-- e já estaria morto na época em que a trama se desenrola. No filme, ele ganha destaque ao servir de perseguidor ao rei anão Thorin (Richard Armitage), que viu seu pai ser assassinado pela criatura.

    A ideia funciona para trazer um pouco de urgência e tensão, elementos pouco explorados no texto original de J.R.R. Tolkien, que compôs a trama para ler para os filhos na cama.

    Jackson, a medida que passa o filme, vai acertando a mão e, da metade para o fim, "Uma Jornada Inesperada" pode até não impressionar ou emocionar como "A Sociedade do Anel", mas é uma bela diversão repleta de lutas saborosas e cenas de ação que equilibram comédia e adrenalina.

    "O Hobbit" é mais leve e cômico do que "O Senhor dos Anéis", contudo bem mais sombrio que o livro. Em um dos melhores momentos do filme, Bilbo (vivido em sua versão jovem por Martin Freeman) confronta Gollum (Andy Serkis), que está mais violento que na trilogia anterior. É como observar uma peça teatral distorcida.

    Nesta hora, quando Bilbo encontra o famoso Um Anel, qualquer lembrança a técnicas de projeção ou efeitos especiais fica para trás e o tom de "Uma Jornada Inesperada" se encontra, deixando para trás a vocação de "O Retorno de Jedi" que o texto sugere.

    Há decapitações, referências a drogas (Radagast, um mago da natureza, é acusado de comer muito cogumelos) e momentos de puro horror --além da aparição de um Espectro do Anel, há uma sequência com lobos gigantes (ou wargs) que vai deixar a molecada com pesadelos.

    Comparativamente, se o começo é uma canção de ninar com piadas, o fim é um verdadeiro filme de horror com lobos gigantes, orcs sebosos e heróis relutantes. Promessa de melhor destino para os capítulo seguintes, " O Hobbit: A Desolação de Smaug" e "O Hobbit: Lá e de Volta Outra Vez", previstos para 2013 e 2014, respectivamente.

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