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    Crítica: Turguêniev retrata impotência das ideias progressistas na Rússia

    ALCINO LEITE NETO
    DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

    12/01/2013 03h48

    Nos últimos anos, graças a importantes iniciativas editorias, os leitores brasileiros puderam (re)descobrir, em traduções muito bem-feitas, uma parte significativa do que os escritores russos produziram no século 19.

    A literatura da Rússia oitocentista, porém, é um imenso oceano e muita coisa preciosa continua emergindo dali --como "Rúdin", de Ivan Turguêniev (1818-1883), lançado agora pela editora 34, em tradução da professora Fátima Bianchi.

    Divulgação
    Pintura retrata o russo Ivan Turguêniev, autor de "Rúdin"
    Pintura retrata o russo Ivan Turguêniev, autor de "Rúdin"

    O livro foi publicado em 1856, quando Turguêniev tinha 38 anos e já se tornara um autor de sucesso em seu país devido à coletânea de contos "Memórias de um Caçador" (1852).
    Contista extraordinário, iniciou com "Rúdin" uma carreira igualmente grandiosa no romance, que chega ao ápice com "Pais e Filhos" (1862).

    Os dois livros são, sobretudo, romances de ideias. Estão interessados em refletir sobre a situação da Rússia (uma autocracia ainda marcada pela servidão), a sua empedernida aristocracia e o papel dos "intelectuais" progressistas, dos "homens de ideias", com aspirações democráticas e cosmopolitas, num país extremamente conservador.

    O protagonista Dmitri Nikoláievitch Rúdin (baseado no anarquista Mikhail Bakúnin) é um desses homens.

    Ele um dia irrompe no salão provinciano de uma latifundiária e provoca ali total turbulência, com sua retórica encantadora e libertária, sua inteligência fulgurante e seu idealismo.

    Aquele mundinho estagnado e pretensioso parece estar prestes a explodir sob o efeito das palavras de Rúdin, quando uma medíocre atribulação amorosa traz à tona toda a impotência do "herói".

    MAESTRIA

    Sendo um romance de ideias, "Rúdin" confere menos importância à trama do que aos diálogos e aos personagens, os quais Turguêniev aborda com maestria, em cada gradação dos sentimentos.

    De Rúdin, ele faz um retrato ao mesmo tempo patético e cruel: um homem de real talento e ideais sinceros, mas cujos "exercícios intelectuais" acabam servindo, no fim das contas, de simples entretenimento para aristocratas e outros endinheirados, que ele, por sua vez, parasita para poder sobreviver.

    Envelhecido, Rúdin descobre-se "um adolescente", "uma criatura inacabada", incapaz que foi de vencer a distância que sempre separou suas ideias de sua ação.

    O último episódio deste romance magnífico --capítulo acrescentado na reedição de 1860, quando a censura no país se abrandara-- conduz a vida de Rúdin a um desterro e a um desfecho surpreendente, trágico, de alta voltagem política. É também a redenção do personagem.

    RÚDIN
    AUTOR Ivan Turguêniev
    EDITORA 34
    TRADUÇÃO Fátima Bianchi
    QUANTO R$ 42 (208 págs.)
    AVALIAÇÃO ótimo

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