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    Um ano após inauguração no antigo prédio do Detran, MAC-USP está vazio

    SILAS MARTÍ
    DE SÃO PAULO

    22/01/2013 03h24

    No livro de visitas da mostra que ocupa há um ano o térreo da nova sede do Museu de Arte Contemporânea da USP, alguém escreveu: "Fiquei decepcionado que o museu não existe. Embora divulgado como fato concreto, não passou de uma maquiagem".

    Inaugurado em janeiro do ano passado, o MAC, instalado no antigo Detran, reformado pela Secretaria de Estado da Cultura a um custo de R$ 76 milhões, continua como estava no dia da abertura.

    Só o térreo está aberto ao público. Lá estão 18 esculturas de artistas consagrados do acervo do museu, como Henry Moore e Maria Martins. São peças de peso, mas parcela ínfima de uma coleção que beira 10 mil obras-primas da arte moderna, todas guardadas numa reserva técnica na Cidade Universitária.

    Não há previsão para que saiam de lá e ocupem o prédio destinado a elas, um espaço dez vezes maior que a sede atual do museu na USP.

    Quando o MAC estreou seu novo endereço, aliás, o decreto que transformaria o Detran em museu já fazia cinco anos, e as portas foram abertas três anos depois do previsto por causa de atrasos nas obras.

    Já no novo edifício, uma nova novela começou. Desde novembro de 2011, a Secretaria de Estado da Cultura, que reformou o prédio depois cedido à USP, tenta licitar e comprar o sistema de segurança e vigilância interna do museu, mas fracassou em todas as tentativas até agora.

    Segundo um levantamento da Folha, foram realizados pelo menos quatro pregões eletrônicos. O último deles, em abril do ano passado, teve o resultado questionado em julho por uma das empresas e espera, desde então, uma solução do impasse.

    "Isso está aguardando a decisão da Justiça", diz o atual secretário estadual da Cultura, Marcelo Araujo, sobre a compra desse sistema, que vai custar entre R$ 3 milhões e R$ 9 milhões. "Tirando esse equipamento, o prédio já está todo concluído."

    Mas sem as câmeras de segurança e detectores de metal, nada pode ser feito. Tadeu Chiarelli, diretor do MAC, diz que não levará peças do acervo, com obras de Picasso, Modigliani e De Chirico, a um prédio sem segurança.

    Editoria de Arte/Folhapress

    TUDO PARADO

    "Vamos ocupar aquilo que é possível ocupar. Não são os lugares ideais, são os lugares possíveis", afirma Chiarelli. "É óbvio que o museu não correspondeu às expectativas. Tem sido um exercício de paciência muito forte. Está tudo em compasso de espera, parado. Todas as tratativas são muito difíceis, morosas."

    Tão morosas que, enquanto o governo tenta resolver o impasse do sistema de segurança, a USP nem começou as licitações que faltam para ocupar o prédio. Um estacionamento de 300 vagas ainda é um grande lamaçal sem previsão de ser construído.

    Dentro da universidade, Chiarelli também batalha para conseguir a garantia da reitoria de que os elevadores do prédio vão funcionar. "O grosso da circulação do museu se dará na vertical", diz Chiarelli. "Isso já poderia ter sido feito, mas não foi. Tem uma burocracia difícil."

    Enquanto não vem a certeza sobre o fluxo dos elevadores, Chiarelli tem ocupado só o térreo e o mezanino do prédio de oito andares. Segundo ele, em caso de um "sinistro" será mais fácil "salvar" peças que estão ao alcance da mão nesses andares mais baixos.

    Nos demais pisos, ainda há trabalho a ser feito. O restaurante que ocupará a cobertura e o café que deverá funcionar no mezanino não foram licitados. Também falta adequar o espaço para receber a loja do museu, que será uma filial da Edusp, a editora da USP.

    João Grandino Rodas, reitor da USP, marcou para hoje uma reunião para cobrar de todos os envolvidos uma explicação pelos atrasos. Procurado pela reportagem, ele não quis dar entrevistas.

    Colaborou MATHEUS MAGENTA, de São Paulo

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