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    Morre no Rio o cineasta e ator Zózimo Bulbul aos 75 anos

    DE SÃO PAULO

    24/01/2013 13h21

    Morreu nesta quinta-feira (24), no Rio, o ator e cineasta Zózimo Bulbul, um dos artistas mais destacados dos anos 1960 por seus trabalhos no cinema e na televisão. Ele tinha 75 anos.

    Bulbul tinha um câncer no intestino, diagnosticado em junho de 2012, que tinha se espalhado para o cérebro e a garganta. O diretor chegou a fazer uma operação para remover o tumor.

    A metástase foi descoberta na última quarta-feira e foi recomendada pelos médicos a internação imediata de Bulbul, mas ele recusou, preferindo ficar em casa.

    Ele foi o primeiro ator negro a ter um papel de destaque em uma novela brasileira, "Vidas em Conflito", que foi ao ar em 1969 pela TV Excelsior, em que fazia par romântico com a atriz Leila Diniz.

    Ele também dirigiu filmes importantes, como "Abolição" (1988) e o curta "Alma no Olho" (1973), que faz uma metáfora sobre a escravidão.

    Divulgação
    O ator e diretor Zózimo Bulbul
    O ator e diretor Zózimo Bulbul

    "Ele não era só um ator de qualidade, mas um ícone da cultura negra, um líder do movimento negro. Tinha uma capacidade imensa de agregar pessoas em torno dele", disse o diretor Cacá Diegues, que dirigiu Zózimo em "Ganga Zumba" (1963) e o convidou para uma participação em "5x Favela - Agora por Nós Mesmos" (2010).

    A ministra da Cultura, Marta Suplicy, também exaltou a carreira do cineasta.

    "Zózimo Bulbul teve uma trajetória fantástica, reconhecida. Mais que um ícone do seu tempo, é alguém que rompe paradigmas, faz o novo e por isso se torna conhecido no Brasil e no exterior. Ele nos deixa o exemplo de quem sempre quis fazer mais e melhor. E fez", disse ela em nota oficial.

    O diretor de "Bróderr" e "5x Favela", Jefferson De, disse que Zózimo Bulbul foi "como um pai" para ele.

    "Ele foi o primeiro cara que cunhou esse termo 'cinema negro', com características brasileiras, mas muito africano. Aqui no Brasil ele me colocou em conexão com o cinema mundial. Para mim, é uma perda muito pessoal desse pai do cinema negro, mas que também muitas vezes assumiu o papel de um pai biológico para mim."

    A Fundação Cultural Palmares, por meio de seu presidente Eloi Ferreira de Araujo, expressou solidariedade à família do cineasta e o chamou de "ícone negro", ressaltando sua luta contra preconceitos e a busca da ampliação "da visibilidade do negro na sociedade brasileira por meio de sua profissão".

    Bulbul retomou o olhar de diretor com "Pequena África" (2002), "Samba no Trem" (2005) e "República Tiradentes" (2005). Seu mais recente trabalho é o média-metragem "Zona Carioca do Porto" (2006).

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    Nos últimos anos, o artista trabalhou em projetos de oficinas de cinema para estudantes do Senegal e de Cabo Verde. Ele era, ainda, um dos organizadores do Encontro de Cinema Negro Brasil África & Caribe, festival que teve seis edições.

    Uma das entrevistas mais recentes que Zózimo Bulbul concedeu foi para um documentário em produção do cineasta norte-americano Spike Lee.

    Bulbul era casado com a figurinista Biza Vianna.

    O velório do cineasta está marcado para às 17h desta quinta-feira, na Câmara Municipal do Rio. O enterro acontece no Cemitério do Caju, na zona norte da cidade, na manhã da próxima sexta-feira (25).

    *

    TRABALHOS

    Como ator:

    1962 - "Cinco Vezes Favela"
    1963 - "Ganga Zumba"
    1965 - "Grande Sertão"
    1966 - "Onde a Terra Começa"
    1967 - "Garota de Ipanema"
    1967 - "El Justicero"
    1967 - "Proêzas de Satanás na Vila de Leva-e-Traz"
    1967 - "Terra em Transe"
    1968 - "O Homem Nu"
    1968 - "O Engano"
    1969 - "A Compadecida"
    1969 - "O Cangaceiro Sem Deus"
    1969 - "Em Compasso de Espera"
    1969 - "Vidas em Conflito"
    1970 - "República da Traição"
    1970 - "A Guerra dos Pelados"
    1970 - "Jardim de Guerra"
    1970 - "O Palácio dos Anjos"
    1971 - "Quando as Mulheres Paqueram"
    1972 - "Os Sóis da Ilha de Páscoa"
    1973 - "Operaçao Tumulto"
    1974 - "Pureza Proibida"
    1974 - "Brutos Inocentes"
    1974 - "Sagarana, o Duelo"
    1974 - "El Encanto del Amor Prohibido"
    1975 - "Ana, a Libertina"
    1980 - "A Deusa Negra"
    1980 - "Parceiros da Aventura"
    1980 - "Giselle"
    1982 - "A Menina e o Estuprador"
    1986 - "Quilombo"
    1987 - "Tanga (Deu no New York Times?)"
    1988 - "Natal da Portela"
    1994 - "Memorial de Maria Moura"
    1996 - "Xica da Silva"
    2002 - "A Selva"
    2003 - "Oswaldo Cruz - O Médico do Brasil"
    2004 - "Filhas do Vento"
    2006 - "O Veneno da Madrugada"
    2010 - "5x Favela, Agora por Nós Mesmos"

    Como diretor:

    1973 - "Alma no Olho"
    1981 - "Aniceto do Império"
    1988 - "Abolição"
    2002 - "Pequena África"
    2005 - "Samba no Trem"
    2005 - "República Tiradentes"
    2006 - "Zona Carioca do Porto"

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