Morreu nesta quinta-feira (24), no Rio, o ator e cineasta Zózimo Bulbul, um dos artistas mais destacados dos anos 1960 por seus trabalhos no cinema e na televisão. Ele tinha 75 anos.
Bulbul tinha um câncer no intestino, diagnosticado em junho de 2012, que tinha se espalhado para o cérebro e a garganta. O diretor chegou a fazer uma operação para remover o tumor.
A metástase foi descoberta na última quarta-feira e foi recomendada pelos médicos a internação imediata de Bulbul, mas ele recusou, preferindo ficar em casa.
Ele foi o primeiro ator negro a ter um papel de destaque em uma novela brasileira, "Vidas em Conflito", que foi ao ar em 1969 pela TV Excelsior, em que fazia par romântico com a atriz Leila Diniz.
Ele também dirigiu filmes importantes, como "Abolição" (1988) e o curta "Alma no Olho" (1973), que faz uma metáfora sobre a escravidão.
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O ator e diretor Zózimo Bulbul |
"Ele não era só um ator de qualidade, mas um ícone da cultura negra, um líder do movimento negro. Tinha uma capacidade imensa de agregar pessoas em torno dele", disse o diretor Cacá Diegues, que dirigiu Zózimo em "Ganga Zumba" (1963) e o convidou para uma participação em "5x Favela - Agora por Nós Mesmos" (2010).
A ministra da Cultura, Marta Suplicy, também exaltou a carreira do cineasta.
"Zózimo Bulbul teve uma trajetória fantástica, reconhecida. Mais que um ícone do seu tempo, é alguém que rompe paradigmas, faz o novo e por isso se torna conhecido no Brasil e no exterior. Ele nos deixa o exemplo de quem sempre quis fazer mais e melhor. E fez", disse ela em nota oficial.
O diretor de "Bróderr" e "5x Favela", Jefferson De, disse que Zózimo Bulbul foi "como um pai" para ele.
"Ele foi o primeiro cara que cunhou esse termo 'cinema negro', com características brasileiras, mas muito africano. Aqui no Brasil ele me colocou em conexão com o cinema mundial. Para mim, é uma perda muito pessoal desse pai do cinema negro, mas que também muitas vezes assumiu o papel de um pai biológico para mim."
A Fundação Cultural Palmares, por meio de seu presidente Eloi Ferreira de Araujo, expressou solidariedade à família do cineasta e o chamou de "ícone negro", ressaltando sua luta contra preconceitos e a busca da ampliação "da visibilidade do negro na sociedade brasileira por meio de sua profissão".
Bulbul retomou o olhar de diretor com "Pequena África" (2002), "Samba no Trem" (2005) e "República Tiradentes" (2005). Seu mais recente trabalho é o média-metragem "Zona Carioca do Porto" (2006).
Nos últimos anos, o artista trabalhou em projetos de oficinas de cinema para estudantes do Senegal e de Cabo Verde. Ele era, ainda, um dos organizadores do Encontro de Cinema Negro Brasil África & Caribe, festival que teve seis edições.
Uma das entrevistas mais recentes que Zózimo Bulbul concedeu foi para um documentário em produção do cineasta norte-americano Spike Lee.
Bulbul era casado com a figurinista Biza Vianna.
O velório do cineasta está marcado para às 17h desta quinta-feira, na Câmara Municipal do Rio. O enterro acontece no Cemitério do Caju, na zona norte da cidade, na manhã da próxima sexta-feira (25).
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TRABALHOS
Como ator:
1962 - "Cinco Vezes Favela"
1963 - "Ganga Zumba"
1965 - "Grande Sertão"
1966 - "Onde a Terra Começa"
1967 - "Garota de Ipanema"
1967 - "El Justicero"
1967 - "Proêzas de Satanás na Vila de Leva-e-Traz"
1967 - "Terra em Transe"
1968 - "O Homem Nu"
1968 - "O Engano"
1969 - "A Compadecida"
1969 - "O Cangaceiro Sem Deus"
1969 - "Em Compasso de Espera"
1969 - "Vidas em Conflito"
1970 - "República da Traição"
1970 - "A Guerra dos Pelados"
1970 - "Jardim de Guerra"
1970 - "O Palácio dos Anjos"
1971 - "Quando as Mulheres Paqueram"
1972 - "Os Sóis da Ilha de Páscoa"
1973 - "Operaçao Tumulto"
1974 - "Pureza Proibida"
1974 - "Brutos Inocentes"
1974 - "Sagarana, o Duelo"
1974 - "El Encanto del Amor Prohibido"
1975 - "Ana, a Libertina"
1980 - "A Deusa Negra"
1980 - "Parceiros da Aventura"
1980 - "Giselle"
1982 - "A Menina e o Estuprador"
1986 - "Quilombo"
1987 - "Tanga (Deu no New York Times?)"
1988 - "Natal da Portela"
1994 - "Memorial de Maria Moura"
1996 - "Xica da Silva"
2002 - "A Selva"
2003 - "Oswaldo Cruz - O Médico do Brasil"
2004 - "Filhas do Vento"
2006 - "O Veneno da Madrugada"
2010 - "5x Favela, Agora por Nós Mesmos"
Como diretor:
1973 - "Alma no Olho"
1981 - "Aniceto do Império"
1988 - "Abolição"
2002 - "Pequena África"
2005 - "Samba no Trem"
2005 - "República Tiradentes"
2006 - "Zona Carioca do Porto"