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    Zózimo Bulbul foi grande ator, cineasta e amigo, diz Lázaro Ramos

    DE SÃO PAULO

    24/01/2013 19h18

    O ator Lázaro Ramos se disse "muito triste" com a morte de Zózimo Bulbul, que ele considerava ser um "grande ator, cineasta e amigo". Bulbul morreu nesta quinta-feira (24), aos 75 anos, no Rio de Janeiro.

    Ele sofria de um câncer no intestino, diagnosticado em junho de 2012, que tinha se espalhado para o cérebro e a garganta. O diretor chegou a fazer uma operação para remover o tumor.

    "Foi contando a história dele que comecei a dirigir. Meu primeiro trabalho no Canal Brasil foi um 'Retratos Brasileiros' sobre ele. Descobri-lo como o primeiro negro protagonista masculino de uma telenovela no Brasil e tantas outras coisas me revelou um novo mundo", disse Lázaro Ramos.

    Divulgação
    O ator e diretor Zózimo Bulbul
    O ator e diretor Zózimo Bulbul

    "Ao fim da entrevista ele me disse de uma forma intensa e emocionada. Isto aqui (apontando para a câmera) é uma arma. Use-a. Eu fiquei até nervoso na hora tal foi a sua intensidade. Mas me inspirei."

    REPERCUSSÃO

    A morte de Zózimo Bulbul também foi lamentada por Eloi Ferreira de Araujo, presidente da Fundação Cultural Palmares.

    "O povo brasileiro tem avançado muito nessa caminhada para construir a igualdade de oportunidades entre negros e não negros, e o Zózimo é um dos protagonistas que vêm de longe lutando contra o racismo e em prol da igualdade. Por isso eu digo que o Brasil ficou hoje menos afro-brasileiro, com uma dor intensa. Mas as futuras gerações conhecerão o trabalho de Zózimo, a riqueza de sua obra e de sua militância."

    A ministra da Cultura, Marta Suplicy, também exaltou a carreira do cineasta.

    "Zózimo Bulbul teve uma trajetória fantástica, reconhecida. Mais que um ícone do seu tempo, é alguém que rompe paradigmas, faz o novo e por isso se torna conhecido no Brasil e no exterior. Ele nos deixa o exemplo de quem sempre quis fazer mais e melhor. E fez", disse ela em nota oficial.

    O diretor de "Bróderr" e "5x Favela", Jefferson De, disse que Zózimo Bulbul foi "como um pai" para ele.

    "Ele foi o primeiro cara que cunhou esse termo 'cinema negro', com características brasileiras, mas muito africano. Aqui no Brasil ele me colocou em conexão com o cinema mundial. Para mim, é uma perda muito pessoal desse pai do cinema negro, mas que também muitas vezes assumiu o papel de um pai biológico para mim."

    "Ele não era só um ator de qualidade, mas um ícone da cultura negra, um líder do movimento negro. Tinha uma capacidade imensa de agregar pessoas em torno dele", disse o diretor Cacá Diegues, que dirigiu Zózimo em "Ganga Zumba" (1963) e o convidou para uma participação em "5x Favela - Agora por Nós Mesmos" (2010).

    VIDA E OBRA

    Zózimo Bulbul foi o primeiro ator negro a ter um papel de destaque em uma novela brasileira, "Vidas em Conflito", que foi ao ar em 1969 pela TV Excelsior, em que fazia par romântico com a atriz Leila Diniz.

    Ele também dirigiu filmes importantes, como "Abolição" (1988) e o curta "Alma no Olho" (1973), que faz uma metáfora sobre a escravidão.

    Bulbul retomou o olhar de diretor com "Pequena África" (2002), "Samba no Trem" (2005) e "República Tiradentes" (2005). Seu mais recente trabalho é o média-metragem "Zona Carioca do Porto" (2006).

    Veja vídeo

    Nos últimos anos, o artista trabalhou em projetos de oficinas de cinema para estudantes do Senegal e de Cabo Verde. Ele era, ainda, um dos organizadores do Encontro de Cinema Negro Brasil África & Caribe, festival que teve seis edições.

    Uma das entrevistas mais recentes que Zózimo Bulbul concedeu foi para um documentário em produção do cineasta norte-americano Spike Lee.

    Bulbul era casado com a figurinista Biza Vianna.

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