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    Amores proibidos marcam primeiro dia de competição em Berlim

    RODRIGO SALEM
    ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

    08/02/2013 11h17

    O primeiro dia de competição do Festival de Berlim deixou a política --uma das maiores características do evento-- em segundo plano para concentrar-se em amores proibidos. Tanto o austríaco "Paradise: Hope", último capítulo da trilogia do diretor Ulrich Seidl, quanto o polonês "In The Name Of" versam sobre paixões não correspondidas.

    "Hope" ("Esperança") completa um ciclo iniciado no último Festival de Cannes sobre uma família austríaca de classe média. Enquanto o primeiro ("Amor") era sobre a matriarca procurando por amor (e sexo) no Quênia e o segundo mostrava a tia em busca de salvar o mundo, o terceiro capítulo de "Paraíso" é sobre a filha Melanie (Melanie Lenz), jogada em uma espécie de spa para adolescentes obesos.

    Como o próprio título adianta, o longa é o mais otimista --porém não menos grotesco-- de Seidl, um diretor com pouca fé na humanidade. Melanie, uma adolescente insegura por causa do peso, apaixona-se pelo médico da instituição, vivido por Joseph Lorentz, e o longa brinca de forma sádica com os limites dessa relação.

    Os dois filmes anteriores serviram como uma construção narrativa do suspense que alimenta o clímax de "Hope". O artifício funciona, já que esperamos o tempo todo pelo pior. Mas, repeti-lo por 90 minutos, é muito truque e pouco estofo, no fim das contas.

    A trama sobre um grupo de gordinhos e gordinhas não se sustenta até o fim. Há diversos erros de continuidade e é preciso uma boa vontade para acreditar que um spa de regimento rígido tem cervejas, geladeiras abarrotadas de nutella e uma vigilância que só funciona quando Seidl precisa para sua conveniência.

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    O mesmo não pode ser dito sobre "In The Name Of", de Malgoska Szumowska, representante polonês na competição. O tema do padre (Andrzej Chyra, ótimo) que se apaixona por um rapaz (Mateusz Kosciukiewicz) de sua "instituição de reabilitação para delinquentes" é batido, mas tem seus momentos ousados.

    "Tive a ideia do longa quando li um pequeno artigo em um jornal sobre um garoto que havia matado um padre. Pensei nessa história de amor, mas no início o roteiro seria sobre solidão. Ser padre é uma experiência solitária e sombria", diz a diretora.

    Em uma das sequências mais inspiradas, o padre enrustido dança bêbado e solitariamente agarrado a uma pintura do Papa Bento 16 --uma clara referência aos recentes casos de abusos de menores que abalaram a igreja católica, há cerca de dois anos.

    "Não queria fazer um filme brutal e ideologicamente contra a igreja católica e os casos de abusos. Seria óbvio demais. Mas é bom que uma discussão comece em meu país, cuja maioria é católica", esclarece Malgoska.

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