• Ilustrada

    Friday, 26-Apr-2024 14:44:11 -03

    Filme de iraniano preso ganha aplausos e vaias na estreia em Berlim

    RODRIGO SALEM
    ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

    13/02/2013 05h03

    O caminho para o palácio onde são exibidos os filmes da competição do 63º Festival de Berlim já adiantava o tom do sexto dia do evento.

    Cartazes com a figura do diretor Jafar Panahi foram espalhados na área da Berlinale com a seguinte mensagem: "Prêmio Filme da Paz - Ele deveria estar aqui". A ideia de um pequeno grupo de alemães ativistas era chamar a atenção para a situação do cineasta iraniano, condenado à prisão domiciliar e banido da profissão pelo governo por 20 anos.

    "Estamos aqui para apoiá-lo, assim como o festival de Berlim o fez ao colocar seu filme na competição", diz Christoph Heutner, um dos organizadores do protesto, pouco depois da exibição de "Cortinas Fechadas", novo longa de Panahi com o amigo Kamboziya Partovi.

    Rodado em apenas três semanas e com quatro pessoas na produção --além de Panahi e Partovi, que também atuam, há a atriz Maryam Mogharam e o câmera Mohammed Reza Jahanpanah--, o filme é uma experiência de metalinguagem mais difícil que o anterior "Isto Não É um Filme" (2011).

    Fabrizio Bensch/Reuters
    Manifestantes seguram mensagens de apoio ao diretor iraniano Jafar Panahi no Festival de Berlim
    Manifestantes seguram mensagens de apoio ao diretor iraniano Jafar Panahi no Festival de Berlim

    Talvez por isso tenha sido o primeiro a receber aplausos e vaias na sessão à imprensa realizada ontem. "Um de nossos objetivos era experimentar algo novo, nos desafiar", explicou Partovi.

    Ele "interpreta" um homem isolado em uma casa de praia com seu cachorro, animal banido das ruas pelo governo iraniano. Paranoico, esconde-se por trás de cortinas que cobrem todas as janelas. A sensação piora quando uma mulher pede refúgio após ser perseguida por policiais (que nunca vemos).

    O filme começa e termina com a visão da praia por trás de grades, que servem para impedir invasores mas também bloqueiam a saída pelas janelas. "Filmamos isso por último para não ter encrenca", diz o codiretor.

    A metáfora não é complicada. Panahi aumenta seu leque de críticas ao regime iraniano: o absurdo da proibição de cães como animais de estimação que resulta na morte de vários animais desde 2011, o parco direito das mulheres no país e, claro, a falta de liberdade artística.

    A dupla de cineastas não precisou enviar o filme dentro de um bolo --modo de transporte de "Isto Não É um Filme" para o Festival de Cannes, há dois anos--, mas o festival não conseguiu a presença de Panahi.

    "Está sendo muito ruim para ele ficar sentado em casa o dia todo. É difícil trabalhar assim, você entra em depressão", conta Partovi, amigo de Panahi há 30 anos.

    O codiretor teme uma reação oficial forte à exibição em Berlim. "Ainda não sofremos retaliações. Mas não sei o que acontecerá conosco."

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024