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    Exposição nos EUA reúne obras pré-rafaelitas

    ROBERTA SMITH
    DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

    08/04/2013 08h17

    Se a exposição "Pré-Rafaelitas: Arte e Design Vitorianos", na National Gallery of Art, fosse um brinquedo de parque temático, você seria aconselhado a afivelar bem o cinto.

    Dedicada ao eternamente popular movimento artístico inglês de meados do século 19 conhecido como a Irmandade Pré-Rafaelita e a seus seguidores, a mostra é repleta de emoções e sustos que passam a impressão de intensidade, mas nunca calam muito fundo.

    Você não verá aqui muito em matéria de grandes pinturas, mas provavelmente terá uma experiência divertida e edificante. Talvez inadvertidamente, essa exposição decomponha muito utilmente a diferença entre qualidade e influência, revelando muito sobre a cultura visual de hoje.

    A arte pré-rafaelita é um misto volátil e altamente complicado de intenções questionáveis, erudição literária, nostalgia absoluta, realismo meticuloso, figurinos extravagantes e uma paleta "technicolor" que se adiantou a seu tempo. A irmandade foi formada em 1848 por William Holman Hunt, John
    Everett Millais e Dante Gabriel Rossetti, três alunos insatisfeitos da Real Academia de Arte Britânica.

    Com pouco mais de 20 anos de idade, eles rejeitavam a decadência da arte e da sociedade, atribuindo-a em boa parte à Revolução Industrial. Queriam fazer o tempo voltar para uma época mais pura, mais cristã, antes de artistas da Alta Renascença, como Rafael, terem começado a confundir as coisas, acrescentando elementos classicistas greco-romanos à arte.

    Os três artistas fundadores formaram um núcleo juntamente com Ford Madox Brown, pintor proto-pré-rafaelita um pouco mais velho, e, mais tarde, Edward Burne-Jones. Produziram algumas das telas mais excessivamente elaboradas já vistas, em matéria de emoção, narrativa e detalhes.

    Imaginando um mundo em que as mulheres --quer sejam castas ou pecadoras, mortas ou vivas-- são impossivelmente belas, essas obras se dão ao grande trabalho de reproduzir cenas da Bíblia, de Shakespeare, da poesia inglesa, da mitologia, da história mundial e de lendas arturianas.

    Empilham símbolo sobre símbolo, detalhe sobre detalhe e cor forte sobre cor forte, até nossos olhos implorarem por uma trégua.
    Ao mesmo tempo histéricas e inertes, essas pinturas são fascinantes como artefatos, obras que refletem seu tempo.

    Essa é a maior exposição pré-rafaelita em várias décadas. Embora Millais, Holman Hunt, Rossetti, Brown e Burne-Jones sejam os responsáveis por 50 das telas expostas aqui, a mostra inclui trabalhos de quase duas dúzias de outros pintores e também de alguns fotógrafos, entre os quais está Julia
    Margaret Cameron.

    Uma galeria é dedicada principalmente às criações de William Morris, outro artista a ter entrado mais tarde para o movimento e que acabou por fundar o "Arts and Crafts" [Artes e ofícios]. A galeria contém mobília medieval pintada por Burne-Jones, além de duas tapeçarias imensas mostrando a procura pelo Santo Graal, com desenho criado por Burne-Jones e trabalho de tear realizado nas oficinas de Morris.

    Muitas obras que são marcos do movimento podem ser vistas aqui. Algumas são bastante famosas. Outras são menos conhecidas do público não britânico. É o caso de "Cristo na Casa de Seus Pais", de Millais, que mostra Maria cuidando de Jesus quando ele se corta enquanto ajudava José na carpintaria. O arranhão sangrento na palma do menino Jesus prefigura as chagas de Cristo.

    A influência dos pré-rafaelitas é muito mais ampla que a da maioria dos movimentos de arte.

    Podemos identificá-la no movimento estético do simbolismo, no estilo Art Nouveau, no design moderno (graças a William Morris), em livros infantis, no fotorrealismo e na arte contemporânea.

    Quando você começa a olhar em volta, enxerga os pré-rafaelitas em toda parte. É por isso mesmo que essa mostra é tão hipnótica. Olhando para essas telas, enxergamos tudo: os chavões visuais de Norman Rockwell e Walt Disney, o colorido alucinatório dos pôsteres psicodélicos, as cenas adocicadas de Thomas Kinkade e o neomedievalismo exagerado de inúmeros filmes e programas de televisão.

    Os pré-rafaelitas ergueram uma das pedras fundamentais da cultura popular. A arte deles é radiativa. Para melhor e para pior, sua influência nunca vai embora --ela apenas se espalha.

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