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    Documentário resgata obra de Billy Blanco sobre São Paulo

    LUCAS NOBILE
    DE SÃO PAULO

    11/04/2013 05h01

    Em 1956, com o espetáculo "Orfeu da Conceição", Tom Jobim e Vinicius de Moraes inauguravam a parceria que abriria caminhos para que os dois compusessem, ainda na década de 1950, o cancioneiro disparador da bossa nova. Dois anos antes de "Orfeu", Jobim já trabalhava com outro parceiro de alto quilate: Billy Blanco (1924-2011).

    Considerado um dos grandes cronistas urbanos da música popular brasileira, o compositor paraense é lembrado agora com o documentário "Sinfonia Paulistana, Um Novo Olhar", exibido nesta quinta dentro da programação do festival É Tudo Verdade.

    Ao lado de Jobim, Blanco fizera em 1954 o samba "Teresa da Praia" --consagrado em dueto de Lúcio Alves e Dick Farney-- e a "Sinfonia do Rio de Janeiro", com arranjos de Radamés Gnattali. No mesmo ano em que escreveu o tributo ao Rio, o compositor começou a escrever também uma homenagem a São Paulo.

    "O Vinicius [de Moraes] tinha dito que São Paulo não dá samba. Eu disse a ele: depende da maneira que a gente observa", diz Blanco, em cena do documentário. Contrariando o poeta e diplomata, Billy retratou não só a cidade, mas também seus tipos e personagens, como trabalhadores da construção civil, camelôs, entre outros.

    João Cordeiro Jr-12.jan.2005/Folhapress
    O cantor e compositor Billy Blanco
    O cantor e compositor Billy Blanco

    O filme dirigido por Rogério Zagallo relembra a concepção de tal obra, originalmente chamada de "Paulistana, a Sinfonia de Todos os Barulhos".

    No documentário, com entrevistas com o próprio músico, Blanco conta que começou a escrever a sinfonia --que teve 14 canções-- ainda 1954, mas optou por não lançá-la na época porque ficaria "muito em cima" da "Sinfonia do Rio de Janeiro", que havia acabado de sair em disco. Postergada, a obra foi lançada em LP apenas em 1974.

    "Quando lancei, provou-se que o tempo não tinha exaurido nem a música nem a letra", contou Billy Blanco em cena do filme.

    Um ano antes, como mostra o documentário com imagens de arquivo, o compositor, acompanhado apenas por dois violões, o de seu filho Billynho Blanco e de Sebastião Tapajós, apresentou pela primeira vez a íntegra da obra no programa "Ensaio - MPB Especial", de Fernando Faro.

    Ali, Blanco revelava os temas da sinfonia, como "Monções", "Louvação de Anchieta", "Bartira", "Rua Augusta", entre outros que contavam "um pouquinho da história do Brasil e da fundação de São Paulo", como descreveu o compositor.

    A primeira metade do documentário é construída com entrevistas e interpretações informais de Blanco para as músicas da "Sinfonia Paulistana", revelando também traços da personalidade do autor da "declaração de amor a São Paulo", como ele define a obra.

    Tal declaração de amor acabou incluindo uma canção que se tornaria um dos hinos da cidade e da correria dos paulistanos: "Vambora, Vambora" ("tá na hora, vambora..."). Utilizada até como abertura de programa de rádio, a música foi "roubada" pelo próprio compositor de um de seus filhos.

    Vídeo

    "Estávamos na praia e ele batucava no carro e cantava: 'Vambora, vambora, tá na hora, vambora'. Perguntei: onde você escutou isso? Ele disse: 'acabei de fazer'. Cheguei em casa e desenvolvi a música", conta o autor em cena do filme.

    A segunda parte do documentário apresenta a concepção do show "Sinfonia Paulistana, Um Novo Olhar", realizado em outubro de 2011, reunindo artistas de gerações posteriores a de Blanco. Capitaneados por Rogério Zagallo, que dirigiu o espetáculo, por Billynho Blanco e João Erbetta, nomes como Marcelo Jeneci, Laura Lavieri, Mauricio Pereira, André Abujamra, Karina Zeviani, Blubell e Curumin fizeram releituras sobre os temas do compositor homenageado.

    Além dos ensaios para o show, o filme também mostra uma espécie de clipes com as músicas de Blanco cantadas pelos artistas citados ilustradas por animações e imagens da cidade de São Paulo antigas e recentes.

    É TUDO VERDADE - SINFONIA PAULISTANA, UM NOVO OLHAR
    QUANDO quinta-feira (11), às 22h
    ONDE Reserva Cultural (av. Paulista, 900; tel. 0/xx/11/3287-3529)
    QUANTO grátis
    CLASSIFICAÇÃO não informada

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