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    Crítica: "Germinal", de Émile Zola, incita proletários contra a burguesia

    LUIZ BRAS
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    20/04/2013 04h07

    Arnold Hauser, o polêmico historiador da literatura, escreveu que Émile Zola (1840-1902), apesar de seu racionalismo positivista, foi o mais romântico dos naturalistas.

    Hauser via no cientificismo unilateral, não-dialético, do romancista francês a ação de um sistematizador romântico, que enxergava em toda parte alegorias, em vez de fenômenos individuais concretos.

    Essa provocação germânica faz sentido.

    O romance mais celebrado de Zola é na verdade um elo numa corrente. "Germinal" é o décimo terceiro volume da saga familiar dos "Rougon-Macquart", em vinte volumes, iniciada em 1870 e concluída em 1893.

    Inspirada na colossal "A Comédia Humana", de Balzac, a saga de Zola traz um subtítulo que não deixa a menor dúvida quanto à sua intenção analítica, científica: "História Natural e Social de uma Família sob o Segundo Império".

    "Germinal", publicado em 1885, nasceu como um longo e radical panfleto a favor do movimento operário na França. E foi como um longo e radical panfleto que sobreviveu até hoje.

    Muito mais importante do que suas qualidades estritamente literárias, supervalorizadas pela crítica imanente, é o seu sincero engajamento social.

    Militância autêntica, sem perífrases nem dissimulação: foi isso que manteve o romance nas livrarias por mais de cem anos.

    REVOLTA

    "Germinal" narra as condições sub-humanas de vida numa mina de carvão na França, batizada apropriadamente de Voraz.

    Étienne Lantier é o militante que organiza a violenta revolta dos mineiros, contra a miséria, a fome e a doença. Em resumo: contra o poderio do capital.

    A greve ganha corpo, impõe-se. O capital convoca a tropa armada. Acirram-se os confrontos, multiplicam-se as mortes. No final, a inevitável derrota dos trabalhadores.

    ]Mas, na visão do otimista Zola, era uma derrota que não deixava os vitoriosos tranquilos, pois os mineiros haviam descoberto sua própria força.

    A imagem quente, cheia de luz, que fecha a epopeia de Étienne é a mais bela visão desse otimismo.

    Afastando-se da mina, rumo a Paris, Étienne observa as sementes germinando no campo, a vida vegetal encorpando e transbordando.

    Para ele, os mineiros não demorariam a fazer o mesmo. Em breve, um exército negro brotaria da terra, a golpes de picareta, para conquistar o mundo.

    "Germinal" e de modo geral toda a obra de Zola costumam ser tachados de maniqueístas. Mas a segunda metade do século 19 europeu não foi uma época muito matizada. Nesse contexto, parecia haver apenas o bem e o mal.

    Isso permitiu a Zola, em seu romance mais persuasivo sobre a luta de classes, dizer de maneira clara e direta, sem rodeios: abençoados proletários do mundo, arranquem da burguesia demoníaca o que é seu de direito.

    LUIZ BRAS é autor de "Sozinho no Deserto Extremo" (Prumo).

    GERMINAL
    AUTOR Émile Zola
    EDITORA Estação Liberdade
    TRADUÇÃO Mauro Pinheiro
    QUANTO R$ 79 (560 págs.)
    AVALIAÇÃO ótimo

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