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    Exposição traz lado sombrio de Claes Oldenburg, mestre da pop art

    BLAKE GOPNIK
    DO "NEW YORK TIMES"

    22/04/2013 04h50

    É perdoável imaginar que Claes Oldenburg, um dos últimos gigantes sobreviventes da pop art, seja um sujeito amalucado vivendo no caos. Afinal, suas obras-primas --um hambúrguer de lona do tamanho de um sofá, um pregador de roupa enferrujado da altura de uma casa etc.-- podem facilmente ser lidas como gargalhadas diante do pomposo mundo da arte.

    No entanto, o ateliê de Oldenburg, na zona sul de Manhattan, é totalmente arrumado: um loft preenchido por clássicos rigorosos da Bauhaus e peças minimalistas de Donald Judd.

    "Quando você realmente quer ser um artista, você se autoanalisa e percebe que muita coisa vem de tempos antigos", disse Oldenburg, 84. "Eu construí meu trabalho ao redor das minhas experiências. Quando me mudava de um lugar para outro, o trabalho mudava."

    Nascido na Suécia, ele trocou Chicago por Nova York em 1956 e se instalou no Lower East Side, que descreve como "a parte mais criativa e estimulante da cidade".

    Reprodução
    "Garfo com Bola de Carne e Espaguete", do artista Claes Oldenburg
    "Garfo com Bola de Carne e Espaguete", do artista Claes Oldenburg

    Seu primeiro trabalho artístico notável encontrou inspiração por lá, disse, em "sacos de lixo feitos de fibra", no grafite que começava a surgir no bairro e nas culturas concorrentes do local, como a judaica e a latina. Ele foi exposto a essa energia urbana exatamente na hora certa, quando as abstrações vistosas de Jackson Pollock e Franz Kline já pareciam cansadas, mas ninguém sabia o que viria depois.

    Esse é o momento revelado na exposição "Claes Oldenburg: A Rua e a Loja", inaugurada em 14 de abril no Museu de Arte Moderna de Nova York.

    O nome da mostra vem de dois projetos que deram início à carreira de Oldenburg. Ao recriar cenas do tecido urbano de Nova York --originalmente pano de fundo para algumas performances--, as primeiras instalações de Oldenburg mostravam um lado frenético, raivoso e até político que muitos esqueceram ao analisar o artista em sua alegre encarnação da pop art. Essas primeiras obras talvez estejam mais de acordo com as atuais tendências artísticas, dando a Oldenburg uma importância renovada.

    Ele é provavelmente mais conhecido pelas esculturas de ventiladores e picolés gigantes que fez no final dos anos 1960. Ou como o homem por trás das maciças esculturas públicas das décadas seguintes, como um monumental par de binóculos perto de Venice Beach, na Califórnia, feito em colaboração com sua mulher, a historiadora da arte Coosje van Bruggen, que morreu em 2009.

    No entanto, cada vez mais, os estudiosos de Oldenburg estão percebendo que todo aquele pop borbulhante tinha origem nas primeiras obras urbanas revoltadas do artista e que suas esculturas lúdicas têm mais força quando essas raízes são compreendidas.

    Ann Temkin, coordenadora da exposição de Oldenburg, referiu-se a "A Rua" (1960), a primeira obra madura do artista, como "uma absoluta obra-prima". Era uma instalação artística antes que o termo fosse banalizado, exposta durante seis semanas em uma galeria em um porão sujo de Nova York. As paredes eram cobertas de recortes crus, quase ilegíveis, de pessoas, carros, bicicletas e armas feitos de papelão encontrado e pintado de preto. Na obra "Instantâneos da Cidade", Oldenburg se vestiu de trapos e se contorceu no meio do lixo, finalmente retirando dele uma arma de papelão e imitando o suicídio. "Não fomos recebidos de maneira amistosa", lembrou. "Estávamos mudando as regras."

    Temkin disse que detecta um eco da obra precoce de Oldenburg na ascensão da arte do lixo e da montagem abjeta de hoje, assim como na performance. "Eu vejo uma série de performances de artistas de 20 anos e tenho certeza de que eles não conhecem esses precedentes", disse. "Eles não deveriam pensar que estão inventando a roda."

    Oldenburg disse lembrar que era exatamente isso que ele e seus colegas estavam fazendo. "Tudo mais ou menos se juntou quando chegaram os anos 60. Foi mágico, porque tudo pareceu começar de repente."

    Com a eleição de John F. Kennedy, "houve um sentimento de que o país iria renascer". O trabalho do artista, como Oldenburg o via, era se conectar a essa energia.

    "A Loja", obra montada primeiramente em 1961 e o segundo grande projeto de Oldenburg, foi criada como uma imitação de loja no nível da rua, que ele encheu de versões engraçadas de gesso dos produtos cotidianos de seu bairro: gravatas borboleta, um sutiã, vestidos, uma caixa registradora e até dois cheeseburgers. Em setembro seguinte, já em uma galeria, esses objetos ganharam a companhia de enormes versões de um sorvete, um hambúrguer e uma fatia de bolo de chocolate.

    Parece que Oldenburg não vê a cultura popular americana pelos olhos de alguém que nasceu dentro dela, como fez Andy Warhol.

    Oldenburg chegou àquela cultura um pouco como forasteiro, com o olhar de um europeu, e sempre a viu maior do que era e mais cheia de magia do que assuntos comuns tinham o direito de possuir.

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