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    'Modelo' narra arte de posar para o pintor Lucian Freud

    CASSIANO ELEK MACHADO
    DE SÃO PAULO

    27/06/2013 03h07

    Com exceção de uma pintura que representa a cabeça de um galo (morto) e de uma gravura que mostra um fragmento do jardim do artista, em Londres, todas as obras de Lucian Freud expostas no Masp são retratos.

    O público que espiar estes rostos expressivos, os corpos nus ou mesmo a gravura do galgo Pluto (não o da Disney) esparramado no chão não pode calcular quanto tempo estes modelos passaram em frente ao artista britânico.

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    A Folha entrevistou um destes "retratados".

    Martin Gayford, o "modelo", conta que, no início, imaginou que a tarefa não seria distinta de uma visita ao barbeiro. Iria ao estúdio e ficaria sentado, sem fazer nada.

    Mas a tarefa de posar para o grande artista britânico se revelaria "a maior prova de persistência" de sua vida.

    Crítico de arte e escritor renomado, Gayford dedicou um livro a essa experiência.

    "Man with a Blue Scarf" (Homem com um Cachecol Azul), publicado no Reino Unido em 2010 (editora Thames & Hudson), converteu-se de imediato numa obra obrigatória sobre Lucian Freud e num dos livros recentes mais originais sobre arte.

    O homem com o cachecol era, naturalmente, o próprio Gayford, que entre 2004 e 2005 passou cerca de 160 horas sentado em frente ao esguio artista, então com mais de 80 anos. Ele pintou um retrato a óleo do crítico, obra que não vem ao Masp e que hoje faz parte de uma coleção privada na Califórnia (EUA).

    Ao final do processo, como era de praxe para as pinturas de sua última fase das quais mais gostava, Freud fez uma gravura retratando o crítico --esta sim faz parte da mostra do Masp.

    MÉTODO E TEMPO

    No livro, Gayford, 61, repassa a trajetória artística de Freud e narra seu meticuloso processo de trabalho, que inclui longas conversas com os modelos fora do ateliê. Numa delas, o pintor lhe perguntou onde comprar uma balança de banheiro. Quando o autor quis saber o motivo --Freud lhe parecia bem magro--, o artista retrucou: "Qualquer grama a mais faz diferença quando se passa dez horas por dia de pé, pintando".

    O tempo fazia parte da metodologia. "Há algumas maneiras de prestar atenção em algo", diz Gayford. "Uma é usar uma lente de aumento, como Freud parece ter feito nos anos 1940 e 1950. Outra é gastar tempo se concentrando naquilo que se observa."

    Nesse segundo ponto, diz Gayford, Freud era extravagante: investia tanto tempo quanto a pintura parecia pedir a ele. "Ele era incapaz de pintar sem o modelo diante dele. E os modelos humanos são diferentes de objetos em muitos sentidos, um deles o de que são conscientes da passagem do tempo."

    A pedido da Folha, Gayford, autor de diversos livros (o único publicado aqui foi um sobre David Hockney, da editora DBA), examinou a lista de obras que vem ao Masp.

    "Faz falta na mostra alguma das pinturas dos últimos 25 anos de Freud, sua fase mais intensa, mas a exposição tem um par de pinturas fortes, boas gravuras e serve como um ponto de partida."

    LUCIAN FREUD
    QUANDO de ter. a dom., das 10h às 18h; qui., até 20h; até 13/10
    ONDE Masp (av. Paulista, 1.578; tel. 0/xx/3251-5644)
    QUANTO R$ 15 (grátis às terças)

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