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    Filme 'Hannah Arendt' discute a 'banalidade' no nazismo

    FRED KAPLAN
    DO "NEW YORK TIMES"

    05/07/2013 03h30

    Cinquenta anos atrás, o livro "Eichmann em Jerusalém - Um Relato sobre a Banalidade do Mal", de uma professora de filosofia chamada Hannah Arendt, desencadeou uma tempestade. Entre a intelectualidade do Upper West Side, em Nova York, o livro provocou, nas palavras do crítico Irving Howe, "uma guerra civil", suscitando discussões e azedando amizades de muitos anos.

    Além disso, vendeu mais de 100 mil exemplares e transformou o modo como as pessoas enxergam o Holocausto.

    "A controvérsia" --como era descrita a disputa crescente-- hoje já está em grande medida esquecida. Mas um novo filme sobre o episódio, "Hannah Arendt", que estreia na quarta-feira no Film Forum, retoma essas discussões.

    Divulgação
    Barbara Sukowa (à esq.), que vive a protagonista em cena do filme com Janet McTeer
    Barbara Sukowa (à esq.), que vive a protagonista em cena do filme com Janet McTeer

    Quando um amigo sugeriu que fizesse o filme, dez anos atrás, a diretora Margarethe von Trotta, veterana do Novo Cinema alemão, reagiu com ceticismo. "Pensei: 'Como eu poderia fazer um filme sobre uma filósofa, uma pessoa que fica sentada, pensando?'", recordou em entrevista telefônica dada em sua casa, em Paris.

    Em vez de cobrir toda a vida de Arendt, decidiu concentrar-se no caso Eichmann. "Para um cineasta, é melhor ter um confronto, não apenas abstração", disse Von Trotta.

    Em maio de 1960, Adolf Eichmann --um dos últimos líderes nazistas do alto escalão ainda vivo, que tinha fugido para a Argentina após a guerra-- foi sequestrado por agentes do Mossad, levado de avião a Jerusalém e julgado por crimes contra a humanidade.

    Refugiada judia alemã e autora de um livro famoso, "Origens do Totalitarismo", Hannah Arendt cobriu o julgamento para a revista "New Yorker" (seu livro foi publicado como artigo em cinco partes).

    Ela apresentou dois argumentos provocantes. O primeiro foi que Eichmann não teria sido o maligno organizador dos campos de extermínio, mas sim um burocrata medíocre, "não um monstro", mas "um palhaço". Veio disso o subtítulo "a banalidade do mal".

    O segundo foi que os chamados "conselhos judaicos" na Alemanha e Polônia foram cúmplices no assassinato em massa. Eles ajudaram os nazistas a arrebanhar as vítimas, confiscar bens e os enviar para os campos onde morreriam.

    Arendt foi repudiada. Alguns dos ataques contra ela foram exagerados. Mas algumas de suas visões também, entre elas o retrato que traçou de Eichmann. Para Arendt, Eichmann teria cometido seus atos sem ter consciência e sem mesmo ser antissemita virulento.

    No entanto, em 1957, na Argentina, Eichmann concedeu uma longa entrevista ao ex-oficial da SS Willem Sassen, na qual gaba-se de ter ajudado a redigir a carta que ordenou a Solução Final. "Não fui apenas alguém que recebeu ordens. Se assim fosse, eu teria sido um imbecil. Eu era um idealista."

    Amos Elon, jornalista israelense que defendia Arendt, disse, na introdução à edição em capa mole do livro, que ela "tinha a tendência a tirar conclusões absolutas com base em evidências casuais".

    A evidência casual da banalidade de Eichmann foi o depoimento carregado de clichês. Ele declarou que tinha apenas feito seu trabalho e Arendt acreditou nele.

    Margarethe von Trotta dirigiu filmes sobre mulheres fortes, mas diz que não se considera missionária. "Não faço filmes para transmitir mensagem. Faço filmes sobre pessoas de quem gosto ou que me interessam. Mas, se existe uma mensagem neste filme, é que você deve pensar por si mesmo, não seguir uma ideologia ou moda. Hannah chamava a isso 'pensar sem corrimões'."

    Tradução de CLARA ALLAIN

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