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    Crítica: Mais que biografia, 'Hannah Arendt' é tributo à inteligência

    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    12/07/2013 03h13

    Margarethe von Trotta pertencia ao novo cinema alemão surgido nos anos 1960. Era um movimento contrário ao chamado "cinema do papai". Cineastas como Alexander Kluge, Werner Herzog, Rainer Werner Fassbinder e Wim Wenders revolucionaram o cinema do país com filmes modernos e politizados.

    Trotta e seu marido, Volker Schlöndorff, eram do segundo escalão. Mesmo assim realizaram, juntos ou separados, filmes importantes, como "A Honra Perdida de Katharina Blum" (1975). Com este "Hannah Arendt", Trotta encara um desafio e tanto --mostrar parte da história da pensadora alemã radicada nos EUA.

    São dois os principais elementos do filme. O primeiro é a incapacidade de grande parte das pessoas entender além do óbvio. Adolf Eichmann, julgado em Jerusalém em 1961, é um assassino nazista, e nada mais do que isso.

    Divulgação
    Barbara Sukowa (à esq.), que vive a protagonista em cena do filme com Janet McTeer
    Barbara Sukowa (à esq.), que vive a protagonista em cena do filme com Janet McTeer

    A judia Arendt tenta mostrar que as coisas não são tão simples. Para ela, Eichmann é um burocrata sem alma ou traços de antissemitismo. Obedecia ordens, viessem elas de Hitler ou de Jesus. É a banalidade do mal, segundo a expressão usada por ela.

    Sabemos que alguns judeus tornaram-se colaboradores para obter regalias nos campos de concentração. Arendt diz que deveria haver algo entre a resistência e o colaboracionismo, e esse algo poderia ter diminuído o número de mortos no Holocausto.

    A questão é simples: ela não estava pregando ali uma verdade absoluta. Queria que as pessoas pensassem. Foi mal entendida. Mas Trotta lhe dá voz e razão no filme.

    O segundo elemento é a força da arte de pensar, perceptível sobretudo em dois momentos: quando a própria Arendt, jovem, se encanta com as palavras do filósofo Martin Heidegger durante uma aula (força que a leva a se tornar amante dele); e quando vemos uma aluna, por duas vezes, arregalar seus olhos com puro interesse durante falas de Arendt.

    São momentos que ultrapassam a simples cinebiografia e fazem de "Hannah Arendt" uma ode ao questionamento e à inteligência. (SÉRGIO ALPENDRE)

    HANNAH ARENDT
    DIREÇÃO Margarethe von Trotta
    PRODUÇÃO Alemanha, 2012
    ONDE Cine Livraria Cultura e Espaço Itaú Frei Caneca
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos
    AVALIAÇÃO bom

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