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    Espetáculo 'Huis Clos' recupera o inferno de Sartre

    GUSTAVO FIORATTI
    DE SÃO PAULO

    30/07/2013 03h15

    "O inferno são os outros." Essa é uma das frases mais conhecidas do filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), e quem faz a constatação a bem da verdade é um personagem criado por ele para o teatro nos anos 1940.

    A sentença está na peça "Huis Clos", de sua autoria, cujo título já foi traduzido para o português como "Entre Quatro Paredes", embora o sentido mais próximo seja o da tradução para o inglês, "No Exit" ("Sem Saída").

    Uma nova montagem, dirigida pelo ator Caco Ciocler, "No Exit - Entre Quatro Paredes" está em cartaz no Sesc Santo André até domingo e, no mês quem vem, será apresentada também no Centro de Cultura Judaica.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Ando Camargo, Sabrina Greve, Chris Couto e, ao fundo, José Geraldo Junior em cena de 'No Exit - Entre Quatro Paredes'
    Ando Camargo, Sabrina Greve, Chris Couto e, ao fundo, José Geraldo Junior em cena de 'No Exit - Entre Quatro Paredes'

    INFERNO

    Ao revelar para amigos a intenção de encenar o texto, Ciocler ouviu gente colocando em dúvida sua atualidade. Ronda "Entre Quatro Paredes", a bem da verdade, o estigma de um estilo estranho mesmo à dramaturgia feita na época em que a peça foi escrita. Seu conteúdo se aproxima de um ensaio filosófico.

    Verborrágica e solitária na maré de peças realistas propagadas principalmente pelos escritores norte-americanos, a peça se aproxima demais de um caminho já mencionado por estudiosos de Sarte: em sua obra literária, ele tem por hábito tornar didáticas suas próprias teses.

    A primeira encenação no Brasil teve interpretação de Cacilda Becker, Sérgio Cardoso e Nydia Licia, em 1950. Sartre começava a reverberar internacionalmente no meio artístico, no que se desdobrou até o fim dos anos 1960 em um modismo. Referir-se ao existencialismo, teoria filosófica desenvolvida por ele, tornou-se comum, senão banal.

    Embora tenha sido proposto por Ricardo Grasson, tradutor da peça, o resgate do texto, conta Caco, encontrou ressonância também na coincidente e recente indicação de seu psicanalista, cujos palpites influenciaram outras escolhas do ator, como a peça "A Construção", em que ele atuou no ano passado.

    Em "No Exit - Entre Quatro Paredes", um homem (José Geraldo Júnior) e duas mulheres (Sabrina Greve e Chris Couto) são confinados em uma sala sem espelhos, representação do inferno. Em um jogo de sedução e repulsa, os três vértices do triângulo expõem uma avalanche de medos e fraquezas.

    DILEMA E APLAUSOS

    Um fenômeno interessante nesta encenação do texto é que, ao final, por uma questão cênica que não cabe ser revelada aqui para não estragar surpresas, instaura-se na plateia a dúvida: aplaudir ou não. "Em geral, o público sai sem os aplausos", diz Ciocler. "Não gosto dos aplausos. Prefiro quando o público não quebra a sensação que se instaure ao final", conta.

    Há, mais do que tudo, um mal-estar impregnando o conteúdo do espetáculo, especialmente pela catarse provocada por uma possível identificação com o dilema: sair ou não do inferno? Se é que essa opção existe.

    Paralelamente à peça, Ciocler começa a se dedicar agora ao projeto de um documentário, sobre Aracy Guimarães Rosa (1908-2011), que foi mulher do escritor João Guimarães Rosa e se comprometeu, em seu tempo, com uma questão: ajudar judeus a fugirem do nazismo alemão para o Brasil.

    NO EXIT - ENTRE QUATRO PAREDES
    QUANDO sex. e sáb., às 20h, e dom., às 18h
    ONDE Sesc Santo André (r. Tamarutaca, 302, Santo André, tel. 0/xx/11/ 4469-1200)
    QUANTO R$ 20
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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