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    Florence and the Machine promove ritual catártico e exige sacrifício humano em show

    ADRIANA KÜCHLER
    ENVIADA ESPECIAL AO RIO

    15/09/2013 00h35

    Florence Welch, vocalista da banda Florence and the Machine, são na verdade duas Florences. Uma vestia ontem um vestido de vovó, conversava meio envergonhada, por vezes olhando pro chão, e ficou assustada quando foi avisada, na entrevista com a Folha, de que tocaria para um público de cerca de 85 mil pessoas no Rock in Rio.

    A outra é a que comandou essas mesmas 85 mil pessoas num ritual catártico --e sem vergonha nenhuma-- no último show da turnê de seu segundo disco, "Ceremonials". Depois de uma introdução de harpa, que já indicava que o ritual começaria, a cantora inglesa entrou no palco descalça e usando com um vestido vaporoso e transparente, azul e branco. E, com os cabelos ao vento (um vento muito mais natural do que aquele produzido pelos ventiladores de Beyoncé), começou a soltar o vozeirão em "Only if For a Night".

    Com o auxílio de um coro, do piano, da harpa e de duas baterias, Florence desfilou pelo show suas músicas grandiosas, com jeito de hinos religiosos. Na música seguinte, "What the Water Gave Me", corria de um lado para o outro do palco e já estava completamente descabelada e suada. Mas, a essa altura, o look da cantora fashionista pouco importava: o público já estava na sua mão.

    "Estamos muito felizes por estar aqui hoje. E, em troca, só vamos exigir alguns sacrifícios humanos", disse a cantora, reforçando o clima quase religioso e antes de pedir que as pessoas levantassem aqueles que amam nos ombros, ao som de "Rabbit Heart (Raise it Up)". Então, o sacrifício aconteceu com uma multidão de moças levinhas (muitas delas ruivas como a própria cantora) subindo nos ombros de moços fortinhos (ou nem tanto).

    Enquanto isso, Florence desceu para interagir com o público, de quem recebeu oferendas, como flores, tiaras e uma bandeira do Brasil --que transformou em mais uma peça esvoaçante de sua roupa.

    Na hora dos hits "You've Got the Love" e "Shake it Out", foi possível ver fãs chorando na grade em frente ao palco. A cada berro potente da cantora (e são muitos), amigos e casais se entreolhavam com cara de "O que está acontecendo aqui?"

    Em "Sweet Nothing", Florence promoveu outro rito de sua liturgia pessoal e pediu que as pessoas abraçassem os colegas, apertassem a mão do fã desconhecido ao lado. Promoveu a união dos fãs de bandas diferentes. A catarse coletiva então aconteceu em "Spectrum (Say my Name)". "Ela vai voar", disse uma fã do meu lado esquerdo. "Acho que ela tá é muito chapada", respondeu o amigo. Florence pôs as mãos em torno do microfone como se rezasse. O público pulava sem parar.

    Na hora da despedida, Florence andou lentamente em direção ao público, como um anjo, antes de soltar o maior hit da banda "Dog Days Are Over", como se dissesse: "Vão em paz, os dias de cão terminaram".

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