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    "Vulgaridade é algo que toda mulher tem dentro de si", diz Roberto Cavalli

    PEDRO DINIZ
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    23/10/2013 12h05

    Pergunte tudo ao italiano Roberto Cavalli, 70, mas não venha com papo sobre a atual tendência andrógina nas passarelas que ele é capaz de dar um "ciao" animal, como quase deu no fim da entrevista à Folha. "Minha arte é vestir mulheres. Sou um artista [numa única pergunta, a palavra surgiu três vezes] que fala sobre beleza e feminilidade. Entenda isso." Ponto.

    Contemporâneo aos estilistas Gianni Versace, morto em 1997, e Giorgio Armani, ele é um dos maiores designers do século 20 em atividade e que luta com afinco para manter no tapete vermelho as estampas de zebra e oncinha, as fendas e a cintura bem marcada dos seus vestidos. A atriz Sharon Stone, 55, os adora, a neoperiguete Miley Cyrus, 20, provou alguns.

    Nesta terça-feira (22), Cavalli chegou ao Brasil para divulgar a linha de 57 roupas e 28 acessórios que criou para a rede popular de lojas C&A --a peça mais barata é um anel de R$ 39,90, e a mais cara, um vestido longo de R$ 799.

    Os preços são altos se comparados às de outras colaborações da rede com estilistas renomados. Na linha desenvolvida pela inglesa Stella McCartney, em 2011, a peça mais cara custava R$ 300, por exemplo.

    Na mala, Cavalli traz a esperança de repetir o sucesso da coleção que desenvolveu, em 2007, para a cadeia sueca de fast fashion H&M e que, em poucos minutos, sumiu das araras de Nova York e Londres.

    O estilista bota fé nos adjetivos comumente associados ao estilo da brasileira, segundo ele, semelhantes aos que definem a mulher italiana, como garantia do sucesso.

    "O gosto pelo sol e pelas cores são iguais", diz. Citando as modelos Adriana Lima e Gisele Bündchen como referências, ele afirma que "as brasileiras representam, sem dúvida, a sensualidade e o poder feminino."

    Uma sensualidade que, para ele, passa longe da vulgaridade, termo que volta e meia a mídia usa para definir suas roupas.

    "Sensualidade tem a ver com personalidade, com charme e glamour. Já a vulgaridade, é algo que toda mulher tem dentro de si. Faço o melhor que posso para mostrar na passarela como evitá-la, mas, infelizmente, algumas mulheres não estão aptas para isso", dispara.

    "O problema é que peito grande virou sinônimo de beleza. Daí, quando a mulher tenta ser sexy demais, perde o glamour."

    Sem citar nomes, ainda brinca: "Quando vejo alguém usando uma roupa minha de um jeito vulgar, fico mal. Tenho vontade de chegar nela e dizer 'tire isso'".

    Entre viagens à bordo do seu iate e reuniões frequentes com amigos, "o segredo para manter a mente ativa e o futuro cor de rosa, não cinza e preto", Cavalli coleciona polêmicas com figuras da moda tão grandes quanto ele.

    Reinaldo Canato/UOL
    Roberto Cavalli durante apresentação da coleção em parceria com a C&A
    Roberto Cavalli durante apresentação da coleção em parceria com a C&A

    Além de chamar de "ridículas" as roupas de Karl Lagerfeld, estilista da Chanel, soltou a língua para dizer que Anna Wintour, diretora de redação da "Vogue" americana, é culpada pela "falta de criatividade" da moda produzida nos Estados Unidos.

    Em 2012, Wintour não foi ao desfile do estilista na semana de moda de Milão depois que ele parou de anunciar na revista.

    "Preferia a moda nos anos 1970 e 1980, quando não precisávamos de publicidade para fazer com que as pessoas usassem nossas roupas. Hoje é tudo voltado para o mercado e fica cada vez mais difícil criar algo novo quando as mulheres parecem saber sempre o que querem vestir, baseadas no que as celebridades usam no Oscar, na TV, nas revistas."

    Apesar do discurso saudosista, Cavalli defende o fim das releituras na moda.

    "Percebe como os estilistas estão sempre olhando para os anos 1960, 1970, 1980 etc.? Tenho medo que, daqui a um tempo, não haja o que ensinar sobre a moda de hoje. É hora de olhar o futuro e esquecer o passado."

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