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    Formação alemã despertou em Wollner paixão por 'coisas úteis'

    SILAS MARTÍ
    ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

    25/11/2013 03h00

    Não é um acaso que a maior mostra já dedicada a Alexandre Wollner aconteça na Alemanha. Foi o tempo que passou na Escola Superior da Forma, em Ulm, de 1954 a 1958, que moldou sua linguagem e reforçou a trajetória geométrica que começou a trilhar em São Paulo.

    "Foi ali que entendi a função do design, que ainda não era clara para mim", diz o paulistano. "Vi que, se faço o desenho de um computador da Apple, vou falar com 100 milhões de pessoas. Se fizer um desenho de moda, falo com cinco ou seis. Preferi falar com milhões de pessoas."

    No caso, com gente afeita a uma linguagem menos ornamental e mais direta ao ponto, calcada na repetição de elementos geométricos e a depuração total das formas.

    Mas mesmo em Ulm, que se pretendia uma continuação do pensamento racional da Bauhaus, esse não era um caminho aceito por todos.

    "Ele ficou numa situação delicada na escola", diz Klaus Klemp, curador da mostra de Wollner no Museu de Arte Aplicada de Frankfurt. "Isso porque ele tinha sido convidado por Max Bill, que era próximo dos neoconcretistas, mas se interessou mais pelo que os outros faziam ali."

    "Não me interessava o neoconcretismo. Isso era um esteticismo da Lygia Clark, do Hélio Oiticica", diz Wollner. "Vi que desenho não é só ilustrativo. Queria fazer coisas de que a sociedade precisava, não coisas bonitinhas, mas coisas úteis, com função."

    Seu colega de classe, Almir Mavignier, lembra essa cisão. "A escola era quase um mosteiro", diz o artista brasileiro. "Quando entrei lá, diziam que não era para românticos. Eu tapava o buraco da fechadura para fazer pintura. Os artistas ali eram malvistos."

    Nesse universo em que o raciocínio científico sufocava liberdades mais expressivas -Mavignier lembra que "não se faziam móveis com o coração, mas com a cabeça"-, Wollner criava marcas cada vez mais sintéticas.

    Eram desenhos que tentavam comunicar tudo que estava associado a uma empresa e suas ideias. Nada em sua obra é por acaso. Mesmo seus projetos mais simples, como o logotipo da Eucatex, criado em 1968, têm um raciocínio quase obsessivo por trás.

    Quando criou o desenho, conta, pensou logo no formato de uma orelha e, então, nas espirais dos estudos feitos no século 4º a. C. pelo geômetra Euclides. Tudo é matemático, mas resulta num desenho fluido, que ilustra a noção de audição, como "uma pedra caindo num lago", compara.

    É uma imagem que talvez se aplique ao próprio designer. Desde que começou, Wollner nunca abandonou seu raciocínio, que reverbera como ondas na produção da identidade visual do país.

    O jornalista viajou a convite da galeria Dan

    ALEXANDRE WOLLNER
    QUANDO de seg. a sex., 10h às 18h; sáb., 10h às 13h; até 18/1
    ONDE Dan (r. Estados Unidos, 1.638, tel. 0/xx/11/3083-4600)
    QUANTO grátis

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