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    Crítica: 'Carrie' de 1976 prevalece; filme novo não sobrevive até ano que vem

    RICARDO CALIL
    CRÍTICO DA FOLHA

    06/12/2013 03h25

    "Carrie - A Estranha" é menos interessante como produto do que como sintoma das mudanças do cinema americano nos últimos 40 anos.

    Em relação à primeira adaptação do livro de Stephen King, feita por Brian De Palma em 1976, essa versão dirigida por Kimberly Peirce ("Meninos Não Choram") traz poucas novidades narrativas.

    Nova 'Carrie', atriz Chloë Grace Moretz sofreu bullying pelo papel

    Talvez a única realmente importante seja a introdução do "bullying" virtual, mais uma forma de opressão encontrada pelas colegas de Carrie (Chloë Grace Moretz), que põem na internet o vídeo de sua primeira menstruação.

    Divulgação
    Chloë Moretz como a protagonista no remake de 'Carrie - A Estranha'
    Chloë Moretz como a protagonista no remake de 'Carrie - A Estranha'

    No tom, porém, as mudanças são muito significativas. Em 1976, um ano antes de "Star Wars", De Palma podia fazer um filme sobre adolescentes tratando os espectadores como adultos. Hoje, Peirce não pode fazer o mesmo.

    Como o público médio diminuiu de idade, Hollywood acredita que é preciso infantilizar seus produtos. E, por isso, temos aqui uma adaptação mais didática, explícita e excessiva.

    Nas mãos de Peirce, "Carrie" se tornou uma espécie de "American Pie" do gore, banalizando e encharcando de sangue essa fábula de terror sobre a puberdade feminina e o fanatismo religioso.

    Em seu romance, King notou que havia algo de assustador no rito de passagem de uma menina à vida adulta, com a menarca sangrenta, o suspense do baile de formatura, o fantasma da rejeição.

    De Palma entendeu que era um livro sobre uma garota aterrorizada pela confusão hormonal e pela inadequação social. E, com os recursos parcos da época, criou cenas de horror inesquecíveis.

    Peirce achou que era uma história sobre uma garota que se vingava atirando facas com a força do pensamento. E, com mil efeitos especiais, não assustou nem uma criança --porque não sacou que o significado do terror precisa ser profundamente pessoal.

    Por isso, o filme de 1976 vai durar além de 2013. Já o de 2013 não sobreviverá até o ano que vem.

    Mas filmes ruins também têm estranhos poderes. Este conseguiu neutralizar o encanto da promissora Chloë. E transformar uma grande atriz como Julianne Moore, no papel da fanática mãe da protagonista, em pastiche.

    CARRIE - A ESTRANHA
    DIREÇÃO Kimberly Peirce
    PRODUÇÃO EUA, 2013
    ONDE Anália Franco UCI, Center Norte Cinemark e circuito
    CLASSIFICAÇÃO 16 anos
    AVALIAÇÃO ruim

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