"A Grande Beleza" pode ser visto como uma versão contemporânea de "A Doce Vida", clássico de Federico Fellini de 1960.
Sorrentino assume a influência, mas não se sente à vontade com a comparação. Diz que seu filme não é uma obra-prima como a de Fellini.
Em 'A Grande Beleza', Paolo Sorrentino retrata elite italiana usando imponência de Roma
Crítica: Com referências a Fellini e Antonioni, 'A Grande Beleza' retrata superficialidade
Roma, em ambos os longas, assume papel de protagonista, com seus palácios, jardins e ruas enviesadas, por onde desfilam personagens que aproveitam o glamour de uma vida privilegiada.
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| A atriz Pamela Villoresi, que interpreta Viola em 'A Grande Beleza' |
Quem conduz "A Grande Beleza", na pele do escritor Jep, é o ator Toni Servillo. Sempre com um copo de uísque na mão e um cigarro na outra, ele vara a noite em festas, acorda tarde e sai cada dia com uma mulher.
Vaga por Roma sem ter destino certo, desfrutando de seu tempo livre em conversas banais com amigos. Os movimentos de câmera acompanham o ritmo de passeio, com deslocamentos suaves.
"Há uma renúncia por parte dos personagens do filme em relação às coisas essenciais da vida, eles preferem o supérfluo", diz Sorrentino.
ACABA EM PIZZA
O cineasta faz um retrato da capital italiana cheio de contrastes. Há beleza nas cenas que registram a arquitetura da cidade, que remete à época do império, e decadência revelada no estilo de vida suntuoso dos personagens.
"Há muitos anos a Itália esqueceu a importância da cultura e da arte", diz o diretor. Num dos diálogos do filme, um empresário diz que o país só é lembrado hoje em dia pela moda e pela pizza.
No microcosmo criado por Sorrentino, o profano e o sagrado convivem na mesma mesa. Numa das cenas, Jep é apresentado a cardeais durante uma comemoração. Um deles, em vez de distribuir sermões, passa receitas de pratos italianos.
É um olhar irônico do diretor, mas a presença deles ali é um contraponto à ostentação dos demais convidados.
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| Os atores Isabella Ferrari e Toni Servillo caminham pela capital italiana em cena do novo filme de Paolo Sorrentino |
Ainda mais improvável é a aparição de uma "santa" que se alimenta apenas de raízes num banquete desastroso.
O diretor esclarece que "o personagem tem uma simplicidade verdadeira, cuja vida é cheia de sacrifícios, uma privação desconhecida por Jep".
PARCERIA COM SERVILLO
Indicado ao Globo de Ouro na categoria de melhor ator, Servillo é um trunfo de Sorrentino. Ator e diretor se conhecem há 20 anos. Antes de "A Grande Beleza", Servillo participou de outros longas do cineasta, como "Il Divo" (2008) e "As Consequências do Amor" (2004).
Neste ano, Sorrentino esteve no Rio para filmar um episódio de "Rio, Eu te Amo", projeto coletivo a ser lançado em 2014 com a participação dos diretores Fernando Meirelles e Guillermo Ariaga.
Sorrentino usou como cenário a praia de Grumari, na zona oeste do Rio, para falar de um casal em crise. (FERNANDO MASINI)