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    Crítica: Com referências a Fellini e Antonioni, 'A Grande Beleza' retrata superficialidade

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    20/12/2013 03h06

    O que é a "Beleza"? Artistas e pensadores vêm há milênios tentando dar respostas menos físicas que metafísicas a essa questão.

    Em "A Grande Beleza", o diretor italiano Paolo Sorrentino assume a ambição de agregar um sentido contemporâneo à montanha de respostas imprecisas.

    Em 'A Grande Beleza', Paolo Sorrentino retrata elite italiana usando imponência de Roma
    Como em 'A Doce Vida', Roma é a protagonista de 'A Grande Beleza'

    Como o público conferiu em filmes como "Il Divo" e "Aqui É o Meu Lugar", o cinema de Sorrentino prefere o artifício e o decorativo, recursos que a crítica costuma avaliar como pomposos e vazios.

    Divulgação
    Os atores Isabella Ferrari e Toni Servillo caminham pela capital italiana em cena do novo filme de Paolo Sorrentino
    Os atores Isabella Ferrari e Toni Servillo caminham pela capital italiana em cena do novo filme de Paolo Sorrentino

    Na vida contemporânea que "A Grande Beleza" pretende representar, tanta saturação, contudo, vem a calhar.

    Afinal, o filme retrata esse vazio cheio demais, a perda de sentido coberta de interpretações, o peso da superficialidade constante nas queixas de nove entre dez adultos com quem tentamos manter esforços de diálogo.

    Há um tanto de vampiro, de Nosferatu, na composição de Toni Servillo como o protagonista Jep Gambardella. Uma dependência do outro para se manter à tona, uma existência à custa de mundanismo.

    Longe da embriaguez social, a lucidez do dia deixa Jep desorientado, vagando entre a nostalgia do tempo perdido e o tédio. Com seu charme peculiar, Servillo encarna uma versão tardia do Marcello Mastroianni de "A Doce Vida" de Fellini e de "A Noite" de Antonioni, ambos testemunhas de um passo da cultura no beco sem saída da opulência sem consistência.

    Desde sua primeira exibição em Cannes, "A Grande Beleza" foi interpretado como uma releitura do clássico moderno de Fellini, uma atualização daquela Itália dos anos 60, enfim admitida no Primeiro Mundo, para a atual Berluscônia.

    A originalidade de Fellini, para muitos, se reconheceria na capacidade de seus filmes provocarem revelações ao forçar a caricatura.

    Hoje, quando, supostamente, todos deixamos de ser (humanos, diversos, singulares) para nos tornarmos réplicas de estereótipos, reproduzir o cânone pode ser um gesto valorizado e admirado.

    O filme de Sorrentino, no entanto, não se esgota na citação ou na escolha da referência. Ele funciona, de fato, como a projeção que vemos quando se põe um espelho diante de outro, um efeito de abismo que provoca vertigens.

    A GRANDE BELEZA
    DIREÇÃO Paolo Sorrentino
    PRODUÇÃO Itália/França, 2013
    ONDE Frei Caneca e circuito
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos
    AVALIAÇÃO ótimo

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