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    Crítica: Roteiro antecipável enfraquece obra ligada à tradição norte-americana

    ADRIANO SCHWARTZ
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    21/12/2013 03h31

    Julia e Cora, a narradora, tiveram um relacionamento e se separaram. Uma foi estudar no Canadá, a outra, na França.

    Elas se reencontram, algum tempo depois, em Porto Alegre e resolvem viajar pelo interior do Rio Grande do Sul. É nesse ponto que começa "Todos Nós Adorávamos Caubóis", de Carol Bensimon.

    O livro segue, a partir daí, um padrão bem definido. Eventos da viagem evocam eventos do passado: as famílias mais ou menos disfuncionais de ambas são esquadrinhadas, o tempo na faculdade é revisto, a memória da vida no exterior é retomada.

    Divulgação
    A escritora Carol Bensimon, autora de "Todos Nós Adorávamos Caubóis"
    A escritora Carol Bensimon, autora de "Todos Nós Adorávamos Caubóis"

    Enquanto isso o leitor vai sendo levado a pequenas cidades (Antonio Prado, Soledade, São Marcos, Minas de Camaquã), com suas figuras locais típicas e não típicas, seus monótonos pontos de interesse.

    HISTÓRIAS DE ESTRADA

    Há uma clara ligação do romance com a tradição norte-americana, no cinema e na literatura, das histórias de estrada. Isso não seria evidentemente um problema se a narrativa não resvalasse, em tantos momentos, no clichê dessas histórias, em uma espécie de roteiro antecipável de acontecimentos que enfraquece a trama.

    O uso fragilizado da linguagem é a contrapartida formal desse clichê: "Havia uma Rural Willys estacionada entre o portãozinho de ferro e a porta da garagem. Eu não sabia muito sobre carros, como já disse anteriormente, mas é claro que poderia reconhecer uma Rural Willys bicolor no meio de um mar de carros populares prata".

    O livro talvez lide com a premissa de que demarcar um território (físico, existencial, temporal, literário) resolve questões e soluciona impasses. Talvez essa seja uma premissa problemática. Ou talvez ela não tenha sido explorada do jeito mais adequado.

    ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (Each) da USP.

    TODOS NÓS ADORÁVAMOS CAUBÓIS
    AUTOR Carol Bensimon
    EDITORA Companhia das Letras
    QUANTO R$ 37 (192 págs.)
    AVALIAÇÃO regular

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