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    'Trapaça' flerta com Oscar e completa trilogia do diretor David O. Russell

    MARCELO BERNARDES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

    31/01/2014 03h01

    Pense numa novela de Silvio de Abreu com uma injeção de US$ 40 milhões (cerca de R$ 97 milhões) em seu orçamento, longos diálogos, como num filme do cineasta francês Éric Rohmer, e passada na época em que Tony Manero, o personagem de John Travolta em "Os Embalos de Sábado à Noite" (1977), requebrava na discoteca.

    É mais ou menos esse caminho que o filme "Trapaça", do diretor David O. Russell, segue em seus primeiros dez minutos. A produção conta a história verdadeira de como um trapaceiro (Christian Bale) cai numa emboscada do FBI, vira dedo-duro e ajuda a desbaratar um dos episódios de corrupção política mais famosos dos anos 1970.

    "Trata-se de um filme sobre o estudo do comportamento humano, que sempre é fascinante e imprevisível, e algumas vezes horrível e mágico", explicou Russell em entrevista à Folha, num hotel de Nova York.

    Divulgação
    Jeremy Renner (esq.), como Carmine Polito e Christian Bale, como Irving Rosenfeld, em cena de 'Trapaça
    Jeremy Renner (esq.), como Carmine Polito e Christian Bale, como Irving Rosenfeld, em cena de 'Trapaça'

    "Trapaça", que recebeu dez indicações ao Oscar, incluindo melhor diretor e melhor filme, traz alta dose de sensualidade, sarcasmo e elenco esperto.

    O filme, agora em pré-estreia no Brasil (com estreia marcada para a próxima sexta, dia 7), venceu o Globo de Ouro de melhor filme de comédia ou musical, melhor atriz de comédia (Amy Adams) e melhor atriz coadjuvante (Jennifer Lawrence).

    Para Russell, "Trapaça" é o terceiro round de sua fase criativa de filmes sobre pessoas da classe trabalhadora que tentam se reinventar na vida. O primeiro da trinca foi "O Vencedor" (2010), seguido de "O Lado Bom da Vida" (2012), ambos indicados para o Oscar de melhor filme.

    Os atores desses dois filmes foram chamados de volta. De "O Vencedor", Russell recrutou Bale e Amy Adams. De "O Lado Bom da Vida", Bradley Cooper, Jennifer Lawrence e Robert De Niro.

    Divulgação
    A atriz Jennifer Lawrence como a dona de casa Rosalyn
    A atriz Jennifer Lawrence como a dona de casa Rosalyn

    FUNDO DE QUINTAL

    À exceção de De Niro, que faz um gângster, todos os outros atores aceitaram papéis diferentes daqueles a que estavam acostumados. "Ao escalar um filme, preciso visitar cada ator em sua respectiva casa", explica Russell.

    Foi no fundo do quintal da casa de Christian Bale, na Inglaterra, que diretor e ator decidiram que o último teria que engordar 18 quilos para o papel do trapaceiro.

    Com "barrigão de cerveja" e uma mal-ajeitada peruca (presa com cola de sapateiro) na careca, Bale está a mil léguas de Batman. "Você não tem que fazer muita coisa", explica Bale à Folha sobre a rotina para engordar quase 20 quilos em dois meses. "É só ficar sem se mover muito e meter hambúrguer com batata frita goela abaixo."

    Já Bradley Cooper dormiu com bobes no cabelo para cuidar da permanente. "Quando a gente olha para aquela exuberante moda dos anos 70, é como se toda a década tivesse sido um grande Halloween", diz Bale.

    Amy Adams largou os papéis de carola/sofredora, como em "Encantada" (2007) e "Dúvida" (2008), pelo de uma mulher fatal, amante dos personagens de Bale e Cooper.

    Longe da Katniss de "Jogos Vorazes", Jennifer Lawrence interpreta uma cafona dona de casa de Nova Jersey, de cabelão loiro erguido à base de muito laquê, que nega dar o divórcio ao marido (Bale).

    Em uma das cenas mais comentadas, mulher e amante de Bale brigam no banheiro de um hotel cinco estrelas. No ápice, Lawrence tasca um beijo na boca de uma incrédula Adams.

    "A ideia do beijo foi minha", explica Adams à Folha. "Mas Jennifer [Lawrence] a executou de uma maneira que não ficou parecendo como um momento em que duas garotas se beijam gratuitamente. A risada gutural que ela dá no final do beijo é pura genialidade."

    O longa traz também uma trilha vibrante, com músicas que vão de "Jeep's Blues", de Duke Ellington a "Live and Let Die", de Paul McCartney & Wings.

    Lawrence canta o tema de James Bond após uma briga com o marido adúltero. "David teve a ideia de a personagem usar uma luva amarela e limpar a casa totalmente furiosa", explica a atriz. "Eu disse: 'Parece incrível, mas se isso vai funcionar, eu não sei'. Basicamente, eu destronquei meu pescoço na cena."

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