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    Crítica: Redenção da 'bicha má' alavanca dramalhão de 'Amor à Vida'

    MAURICIO STYCER
    COLUNISTA DA FOLHA

    31/01/2014 03h12

    Na última segunda-feira (27), entre 21h09 e 22h41, 72% dos lares na Grande São Paulo com a televisão ligada estavam sintonizados em "Amor à Vida".

    A novela de Walcyr Carrasco ofereceu naquela noite uma cena aguardada havia meses. Depois de uma dezena de tentativas, o ex-vilão Félix (Mateus Solano), agora nas vestes de super-herói, finalmente salvou o pai cego, César (Antonio Fagundes), das garras da vilã Aline (Vanessa Giácomo), que o traía abertamente com o cúmplice Ninho (Juliano Cazarré).

    Neste mesmo capítulo épico, o público viu a megera Aline fingir seduzir Ninho, amarrá-lo na cama e esfaqueá-lo dez (!!!) vezes na barriga antes de fugir para o aeroporto. Mesmo sangrando, o "guerreiro imortal" solta as cordas, escala uma janela, pula numa caçamba encostada na rua e é levado ao hospital San Magno.

    Estevam Avellar/Globo
    Mateus Solano interpreta o personagem Félix em cena da novela 'Amor à Vida'
    Mateus Solano interpreta o personagem Félix em cena da novela 'Amor à Vida'

    Antes de ser operado, Ninho encontra forças para avisar Paloma (Paolla Oliveira), a heroína original da trama (alguém lembra?), que Aline está naquele momento fugindo para a Bélgica.

    "Champanhe, minha senhora?", pergunta a comissária de bordo à víbora, na cena seguinte, a última do episódio. "Quero sim. Para comemorar a minha vitória", ela responde. Com um close em Aline bebendo uma taça na primeira classe, o capítulo termina.

    RECORDE

    O Ibope deste dramalhão rasgado e mal escrito registrou 48 pontos —algo como 3,1 milhões de espectadores na Grande São Paulo. Hoje, quando vai ao ar o último capítulo, espera-se desempenho semelhante em matéria de números.

    Do ponto de vista comercial, o sucesso parece assegurado. O final da trama pode ter oito intervalos comerciais e bater recorde de anunciantes, informou a coluna "Outro Canal", de Keila Jimenez. Na grade da Globo, prevê-se um capítulo com 110 minutos de duração.

    Por que, mesmo tão ruim, "Amor à Vida" chega tão bem ao final? Ao exibir hoje o 221º capítulo, a novela terá possivelmente batido o recorde mundial de abordagem de temas polêmicos numa mesma novela. Nenhum (repito, nenhum) teve tratamento sério por parte do autor, mas muitos causaram barulho.

    A principal aposta, a "bicha má", um personagem gay terrivelmente cruel (e caricato), foi abandonada no meio do caminho. Sagaz, Carrasco percebeu que Félix inspirava carinho do público. Desistiu, então, do que havia previsto originalmente e providenciou a redenção do personagem. Foi o pulo do gato de "Amor à Vida".

    Vendendo cachorro-quente na rua 25 de Março, o ex-vilão foi absolvido dos mais variados crimes que cometeu, incluindo tentativa de assassinato, fraude, roubo e planejamento de sequestro. Para completar, teve início o romance com Niko (Thiago Fragoso), um dos poucos personagens de boa alma em toda a novela.

    Um pouco como Jorginho em "Avenida Brasil", Niko acabou sendo a "mocinha" de "Amor à Vida". Espera-se hoje que beije o super-herói Félix. Beijando ou não, a audiência está assegurada.

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