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    Desgastada, nudez no teatro ganha novas feições e perde sentido erótico

    GUSTAVO FIORATTI
    DE SÃO PAULO

    06/02/2014 03h01

    Se na era pós-beijo gay a Globo já mostra o nu dorsal de Oscar Magrini numa novela chamada "Em Família", no teatro, balança o sentido libertário que a nudez podia expressar décadas atrás.

    Parece sintomático. Mesmo o Teatro Oficina, que em 1996 tirou Caetano Veloso da plateia para despi-lo em "As Bacantes", está mais comportado em "Cacilda!!! e "Cacilda!!!! (as exclamações representam o episódio da saga sobre a atriz Cacilda Becker). O grupo, porém, não quis falar.

    Também o grupo Os Satyros deixou de lado o horizonte da provocação. "Acho que ficamos estigmatizados", diz Rodolfo Garcia Vazquez, diretor do grupo, um dos mais atuantes no cenário paulista.

    Elenize Dezgeniski/Divulgação
    Rodrigo Ferrarini (à esq.) e Ranieri Gonzales em cena da peça "Isso Te Interessa?"
    Rodrigo Ferrarini (à esq.) e Ranieri Gonzales em cena da peça "Isso Te Interessa?"

    A companhia explorou o sexo e a nudez nas peças "120 Dias de Sodoma e Gomorra" e "Justine", ambas baseadas na obra de Marquês de Sade.

    Em 2013, em "Édipo na Praça", havia o consentimento de um pênis de silicone em cena, mas nada além disso. A próxima montagem será sobre o mundo ciborgue.

    Vazquez assume que, se houve no passado recente do teatro alguma vontade de provocar o público com falos e seios, o efeito se perdeu.

    "Quando exibimos '120 Dias...' nos anos 1990, as pessoas saíam do teatro. Na década passada, isso já não ocorria. Agora, os aspectos cômicos do texto de Sades vieram a primeiro plano."

    A nudez, assim, não foi abandonada por completo. Pelo contrário, ganhou novos contornos, trazendo potencial erótico e metafórico à frente de qualquer vontade de cutucar o público.

    "A nudez não tem sentido se for encarada dessa forma [como provocação]", diz Sérgio Ferrada, diretor de "Genet: o Poeta Ladrão", que reestreia amanhã no teatro Sérgio Cardoso, repleto de atores pelados.

    O diretor, porém, não rejeita representações que remetem às formas dos anos 1990, típicas do Oficina. "Despir-se para entrar em contato com sua essência parece algo demagógico, mas não é." Para ele, o sexo e a nudez, em "Genet", são "passaportes para o onírico e o sagrado".

    A peça começa com seu protagonista sob um véu translúcido, enquanto um anjo dança sinuosamente, vestindo apenas coturnos.

    A nudez pode assumir, dessa maneira, a função de mais um simples acessório em cema. "Isso te Interessa?", da Companhia Brasileira de Teatro, que volta ao cartaz no Rio, também tem atores nus (usando brincos ou tênis) -mas sem erotismo, já que a questão nem combina com o texto de Noëlle Renaude, sobre relações familiares.

    Segundo Rodrigo Ferrarini, ator da companhia, a opção "dá mais agilidade à montagem do texto, que constantemente passa por saltos no tempo e que, se realizado de maneira realista, exigiria trocas de figurino".

    GENET: O POETA LADRÃO
    QUANDO Sex. e sáb., às 21h, e dom., às 20h
    ONDE Sérgio Cardoso; r. Rui Barbosa, 153, tel. (11) 3288-0136
    QUANTO R$ 40
    CLASSIFICAÇÃO 18 anos

    ISSO TE INTERESSA?
    QUANDO 15/2, 21h, e 16/2, 20h
    ONDE Galpão Gamboa; r. Gamboa, 279, Rio, tel. (21) 2516-5929
    QUANTO R$ 20
    CLASSIFICAÇÃO 18 anos

    CACILDA!!! e CACILDA!!!!
    QUANDO sáb., às 18h ("Cacilda!!!") e dom., às 18h ("Cacilda!!!!")
    ONDE Teatro Oficina; r. Jaceguai, 520, tel. (11) 3104-0678
    QUANTO R$ 40
    CLASSIFICAÇÃO 16 anos

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Sylvia Prado (no centro) em "Cacilda!!!" no Teatro Oficina
    Sylvia Prado (no centro) em "Cacilda!!!" no Teatro Oficina

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