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    Crítica: Diretor Yoji Yamada atualiza obra-prima do cinema japonês de 1953

    SÉRGIO ALPENDRE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    07/02/2014 03h19

    Yoji Yamada é o que podemos chamar de um bom artesão. Em mais de 50 anos de carreira, fez um pouco de tudo, com destaque para os filmes de samurais, as comédias familiares e os melodramas.

    Com "Uma Família em Tóquio", atualiza uma obra-prima do cinema japonês: "Era uma Vez em Tóquio" (1953), de Yasujiro Ozu. Por atualização, entenda-se que Yamada traduz a modernidade de Ozu para o Japão contemporâneo.

    E essa tradução, por mais paradoxal que possa parecer, anula a modernidade de Ozu em favor do clássico.

    Divulgação
    O casal Hirayama, vivido pelos atores Isao Hashizume (à esq.) e Kazuko Yoshiyuki
    O casal Hirayama, vivido pelos atores Isao Hashizume (à esq.) e Kazuko Yoshiyuki

    Porque Ozu, sendo um dos grandes do cinema clássico, era incrivelmente moderno na maneira de contar suas histórias. Daí o fato de ter sido tão pouco imitado (e quem procura imitar seu estilo invariavelmente se dá mal).

    Já Yamada é clássico até a medula. No sentido de se filiar a um modo há muito estabelecido de filmagem: câmera discreta, sucessão harmoniosa dos planos, trabalho com a cartilha do campo e do contracampo (ao contrário de Ozu, que ousava nesse sentido). Nada disso implica em demérito, diga-se.

    Em "Uma Família em Tóquio", um casal de idosos viaja à Tóquio para visitar os filhos. Chegando na grande cidade, descobrem que os filhos mais velhos foram tragados pela competitividade do mercado de trabalho, e mal têm tempo para estar com eles. O mais novo, por sua vez, parece sem rumo.

    Temos novamente o velho embate entre progresso e tradição, entre a pacata ilha onde moram os pais e a pujança da capital onde os filhos construíram carreira.

    Temos também o conflito geracional. Os idosos não entendem o desprendimento e o desapego dos mais novos com a tradição, e os jovens não entendem os valores que os pais ainda defendem.

    Yamada, contudo, é conciliador. Há espaço para a tragédia, mas também há esperança. As pessoas se revelam aos poucos, fazendo-nos lembrar da frase que Jean Renoir diz, por meio de seu personagem, em "A Regra do Jogo", de 1939: "O diabo deste mundo é que todos têm suas razões".

    UMA FAMÍLIA EM TÓQUIO
    DIREÇÃO Yoji Yamada
    PRODUÇÃO Japão, 2013
    ONDE Cinesesc
    CLASSIFICAÇÃO livre
    AVALIAÇÃO bom

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