O cinema de Rithy Panh —diretor nascido no Camboja em 1964 e radicado na França— é obsessivo. Quase todos os seus filmes falam do regime instalado em seu país natal em abril de 1975, quando as forças armadas do líder comunista Pol Pot tomaram a capital Phnom Penh.
Pol Pot instaurou no Camboja um regime de terror, que incluiu o deslocamento de centenas de famílias da cidade para o campo e a sistemática execução de opositores.
O desastre da experiência agrícola, que provocou fome e desnutrição, e as execuções de caráter político levaram entre 1 milhão e 3 milhões de pessoas à morte.
Mak Remissa/Efe | ||
O diretor Rithy Panh, em Phnom Penh, no Camboja |
Em 1976, a família de Rithy Panh foi deslocada da capital para uma plantação de arroz. Seus filmes não são assombrados apenas pela memória do período, mas, principalmente, por essa grande questão do cinema: como representar o horror?
Em 2003, Panh produziu uma das respostas mais contundentes para tais questões no essencial "S21 - A Máquina de Morte do Khmer Vermelho", em que promoveu o encontro entre carrascos e vítimas e, mais radicalmente, propôs a reencenação de assassinatos por seus executores (dispositivo retomado de forma mais exuberante no documentário "O Ato de Matar", de Joshua Oppenheimer).
Em "A Imagem que Falta", Rithy Panh volta ao tema sem se repetir. Aqui o cineasta recorre a uma inusitada mistura de imagens de arquivo, narração em "off" (extraída de trechos de sua autobiografia "L'Elimination") e à reencenação de episódios de sua juventude com bonecos de argila feitos e pintados a mão.
Ao recorrer a essa combinação de elementos, principalmente aos bonecos, Panh mais uma vez desafia as convenções do cinema documental e adiciona ao filme uma qualidade sensorial quase tátil, que aprofunda a proposta apresentada em suas obras anteriores e resulta em seu filme mais pessoal e poético.
A IMAGEM QUE FALTA
DIREÇÃO Rithy Panh
PRODUÇÃO Camboja/França, 2013
ONDE Espaço Itaú Pompeia; estreia prevista para 14/2
*CLASSIFICAÇÃO8 16 anos
AVALIAÇÃO ótimo