A ex-vedete Virgínia Lane morreu aos 93 anos na tarde desta segunda-feira (10), por volta das 16h50, no Hospital São Camilo, em Volta Redonda (RJ). A causa da morte não foi especificada pela instituição.
Virgínia estava internada no local desde o dia 2, quando deu entrada com um quadro de infecção urinária. Na quinta (6), ela havia piorado e, de acordo com o hospital, já não estava mais lúcida.
O velório será iniciado ainda na noite desta segunda-feira, na Câmara Municipal de Piraí, cidade localizada a 89 km do Rio. Na terça-feira (11), o corpo segue para o teatro João Caetano, na capital, onde será velado por mais algumas horas.
O enterro será no fim da tarde (ainda sem horário definido), no cemitério Memorial do Carmo.
Pelo Twitter, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM) lamentou a morte da ex-vedete. "Minha saudade de Virgínia Lane, que tantas histórias me contou e que nunca consegui que aceitasse fazer um livro", escreveu.
"Uma das coisas mais simbólicas é que Virgínia Lane foi a primeira vedete que entrou na casa da família brasileira com o programa 'Espetáculos Tonelux', na década de 1950 [o nome Tonelux pertencia a uma loja de eletrodomésticos]. Era um programa transmitido ao vivo, começava com uma orquestra, e ela cantava, dançava e apresentava. O teatro de revista era o grande sucesso da época", disse à Folha a historiadora Rosa Maria Araújo, que assina o texto da peça "Sassaricando" junto com o jornalista Sergio Cabral.
CARREIRA
Batizada de Virgínia Giaccone, ela nasceu em 28 de fevereiro de 1920, na capital fluminense.
Antes de ingressar na carreira artística, chegou a entrar na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, mas trocou esse estudo pelo da dança. Teve aulas com a célebre professora Maria Olenewa e frequentou a Escola de Bailados do Teatro do Rio.
Trabalhou como corista no Cassino da Urca e como crooner da orquestra do maestro Vicente Paiva. Suas primeiras marchinhas foram "Maria Rosa" e "Amei Demais".
Na década de 1940, se apresentou nas rádios Mayrink Veiga e Splendid. Também morou por quase quatro anos em Buenos Aires, onde cantava na boate Tabaris.
Em 1948, de volta ao Brasil, se tornou vedete da revista "Um Milhão de Mulheres". Pouco depois, aos 34 anos e já na revista "Eu Quero é Sassaricar", lançou o sucesso "Sassaricando". Após estourar nas rádios com a música, recebeu do então presidente Getúlio Vargas o título de "vedete do Brasil".
De acordo com entrevista dada por Virgínia ao "Guia do Estudante" em 2007, ela e Vargas namoraram durante quase 15 anos —mesmo com o presidente sendo casado. "Não conheci outro homem com um caráter como o dele, nem os meus maridos [ela foi casada duas vezes]. Eles tinham interesse na 'Vedete do Brasil'. Getúlio me deu esse título, mas gostava de mim porque me achava culta e inteligente."
Gravou dezenas de discos pelas gigantes da indústria fonográfica de então, como a Continental, Todamérica e Carroussel.
Entre seus grandes sucessos, estão "Santo Antônio Casamenteiro", "Portão da Casa do Juca", "Chorinho Gostoso" e "Mulher de Verdade".
Numa entrevista à Rádio Globo em 2012, Virginia Lane afirmou que estava na cama com Getúlio Vargas em 1954 quando o então presidente da República morreu: segundo a ex-vedete, Vargas não se suicidou, mas foi assassinado.
O depoimento virou anedota entre comentaristas da vida política e cultural brasileira. O colunista da Folha Elio Gaspari cunhou a expressão síndrome de Virgínia Lane para se referir a teses conspiratórias sobre mortes de políticos brasileiros.
No cinema, fez carreira ao aparecer nas chanchadas, filmes populares cômicos e repletos de números musicais que fizeram sucesso no Brasil entre as décadas de 1930 e 1960. Contracenou com Oscarito e Grande Otelo em filmes como "Alô Alô Carnaval" (1936) e "Carnaval no Fogo" (1949).
A partir de 1970, já no segundo casamento, passou a morar num sítio em Piraí. A cidade a homenageou em 2010, quando completou 90 anos.
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A atriz e cantora carioca Virgínia Lane, nos tempos de vedete, em imagem de 1952 |