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    'Meu filme é um presente para Noam Chomsky', diz cineasta Michel Gondry

    RENATA MIRANDA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BERLIM

    11/02/2014 15h24

    O diretor francês Michel Gondry está preocupado com o filósofo americano Noam Chomsky. "Desde que Carol, sua mulher, morreu em 2008, eu fiquei pensando: 'Quem será que vai comprar as roupas dele?', porque naturalmente, ela é quem deveria desempenhar essa função", disse Gondry durante entrevista à Folha e a um grupo de jornalistas internacionais na tarde de segunda-feira (10) em Berlim.

    "Comecei a ter sonhos nos quais eu comprava blusas de frio para ele e até cheguei a comprar um livro de presente, mas aí fiquei com vergonha de entregar."

    Gondry e Chomsky se conheceram há mais ou menos três anos, quando o diretor –um fã declarado do trabalho do escritor, filósofo e linguista americano– começou as filmagens de seu novo trabalho, "Is The Man Who Is Tall Happy?" (É feliz o homem que é alto?, em tradução livre). O documentário usa animações à mão feitas por Gondry para ilustrar uma conversa com Chomsky e tem como tema central o funcionamento da mente humana, com foco especial na conexão entre linguagem e criação de memórias.

    Tim brakemeier - 6.fev.2014/Efe
    O cineasta francês Michel Gondry no Festival de Berlim de 2014
    O cineasta francês Michel Gondry no Festival de Berlim de 2014

    Iniciado em 2010, o projeto foi finalizado apenas no ano passado por causa da agenda cheia de Gondry. "Foi muito barato fazer esse filme", disse o diretor, que também faz parte do júri internacional desta edição da Berlinale. "Isso fez com que esse projeto fosse especialmente animador porque tive liberdade total para fazer o que eu quisesse."

    Gondry explica que foi fácil convencer Chomsky a participar do projeto. "Ele é uma pessoa muito acessível que dá milhares de entrevistas e dificilmente vai atrás para ver como e onde essas conversas foram publicadas", afirmou. "Ele não é o tipo de cara que digita o próprio nome no Google para ver o que estão falando dele e eu queria muito que esse filme fosse um presente para ele."

    Ao contrário do filósofo, o cineasta se posiciona como menos aberto a conversas, já que reclama de ter de conceder entrevistas sobre "Is The Man Who Is Tall Happy?". "Para mim às vezes é muito frustrante ter de explicar meu trabalho, mas tenho de fazer isso [explicar] para promovê-los", disse. "No entanto, neste documentário em particular a parte de promoção é interessante porque aí posso parecer mais esperto do que pareço no filme."

    O tempo que o diretor trabalhou com Chomsky foi, segundo Gondry, uma de suas experiências mais gratificantes: "Ele tem uma mente incrivelmente afiada e pode vencer qualquer pessoa em um debate sobre qualquer assunto."

    "Foi difícil conseguir respostas diretas dele [Chomsky] porque, quando ele fala, parece que segue um roteiro próprio em sua cabeça", acrescentou.

    O projeto também aproximou os dois e Chomsky, que nunca tinha visto um filme de Gondry antes, já assistiu ao documentário três vezes desde que ficou pronto. Com uma amizade estabelecida, no ano passado, Gondry finalmente tomou coragem e entregou um presente que tinha comprado para o filósofo. "No aniversário dele, fui até uma loja e escolhi o suéter mais bonito que encontrei. Ele ligou para me agradecer, mas achou que tinha sido minha assistente que tinha feito a compra", disse Gondry. "Tomei coragem e fiz questão de dizer que escolhi pessoalmente."

    Divulgação
    Cena da animação documental 'Is The Man Who Is Tall Happy?', feita a partir de conversas entre Gondry e Chomsky
    Cena da animação documental 'Is The Man Who Is Tall Happy?', feita a partir de conversas

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