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    Peça de Sérgio Roveri em cartaz no Club Noir ilumina absurdo da vida

    GABRIELA MELLÃO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    24/02/2014 12h00

    A observação da realidade, herança de uma longa carreira jornalística, alimentou por cerca de dez anos a dramaturgia de Sérgio Roveri.

    Fragilidades do homem contemporâneo eram sublinhadas, ainda que de forma poética, em peças como "Abre as Asas Sobre Nós", premiada com o Shell de melhor texto em 2006.

    A realidade passa a ganhar contornos abstratos na obra do dramaturgo em "Opus 12 Para Vozes Humanas", peça dirigida por José Roberto Jardim, em cartaz no Club Noir, em São Paulo.

    "O modo como a gente vê o mundo vai mudando. Hoje percebo que a realidade é intraduzível", diz Roveri.

    Lenise Pinheiro - 26.jan.2014/Folhapress
    O dramaturgo Sérgio Roveri
    O dramaturgo Sérgio Roveri

    "Opus..." é composto por dois textos curtos que buscam enfatizar incoerências da vida atual. "Vejo nestas peças o mais belo, doce e inquietante absurdo sobre o que é viver", diz Jardim.

    Na primeira, o autor fotografa um dia da cidade. As fotos surgem sem legendas que contextualizem nome ou trajetória de personagens, e com pinta de colagem. Justapõe tecidos de diferentes tempos para retratar de modo fragmentado e sensorial acontecimentos de um dia na vida de um homem e uma mulher.

    Roveri revela que buscou pela primeira vez se libertar da construção convencional da trama, trabalhando sons e vozes como personagens.

    A fotografia da segunda peça é ainda mais surrealista. Retrata um jantar, no qual convidados falam e riem sem cessar. Não conversam, apenas monologam. A maior preocupação parece ser preencher o tempo com banalidades e sustentar uma imagem de perfeição. Gritos que acontecem fora do palco revelam realidades inadequáveis aos padrões impostos pela sociedade e são ignorados pelos personagens em cena.

    O descolamento da realidade e a busca por olhares múltiplos da vida humana dão o tom de outros três espetáculos do autor previstos para estrear ainda este ano ano: "3 x Roveri", "Maria I" e "Tempos de Marilyn".

    O primeiro é um projeto da Cia. Os Satyros, no qual Rodolfo García Vázquez e outros dois diretores concebem diferentes leituras para a peça "Os que Vêm com a Maré".

    O casal de protagonistas da trama não consegue lidar com o fato de que seu único filho está seriamente doente. Prefere interferir na realidade e construir um mundo fictício. A dupla passa a acreditar, então, que o filho está saudável.

    "Maria I" é um monólogo inspirado na vida da rainha louca Dona Maria I, mãe de Dom João VI. "Tempos de Marilyn" cria um encontro poético entre Norma Jean Baker (o nome real de Marilyn) e a própria Marilyn. Ambas as peças também evidenciam uma tentativa de interpretação (e não mais apresentação) da realidade. "Em todos estes textos percebo uma realidade paralela, algo que empurra ou mantém os personagens numa espécie de limbo, em um lugar onde a realidade e a loucura se misturam e se combinam de maneira irrecuperável", explica Roveri.

    OPUS 12 PARA VOZES HUMANAS
    ONDE Club Noir (Rua Augusta, 331, Tel. 3257-8129).
    QUANDO Quartas e quintas, às 21h; até 1/5.
    QUANTO R$ 30
    CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA 14 anos

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