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    Crítica: Longa 'Alemão' é só uma boa ideia que não deu certo

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    13/03/2014 03h05

    As imagens factuais que abrem, encerram e surgem ao longo de "Alemão" evidenciam um dos aspectos essenciais do filme.

    Mesmo que um texto posto no início alerte que a trama é uma obra de ficção, o contexto da ação recorre à ancoragem em fatos.

    A vantagem disso é atrair o público que acompanhou com sede de sangue o cerco e a invasão do Complexo do Alemão, no Rio, em novembro de 2010, e lançá-lo numa ratoeira na qual a violência é onipresente, mas não espetacularizada como acontece de hábito na TV.

    Divulgação
    Caio Blat (esq.), Milhem Cortaz, Marcello Melo Jr. e Otávio Muller
    Caio Blat (esq.), Milhem Cortaz, Marcello Melo Jr. e Otávio Muller

    Logo que se desembaralha da tarefa de representar o lugar factual do confronto entre a lei e o crime, o filme se concentra num porão.

    A inteligência do roteiro de Gabriel Martins consiste em armar uma trama de filme de gênero, surrupiada de clássicos cinéfilos de Howard Hawks e John Carpenter, para arrancar seu tema do mundo limitado da realidade e devolvê-lo ao cinema, o lugar da fantasia.

    SEM TESE

    O recurso ardiloso, por um lado, permite liberar o filme do sobrepeso da mensagem, da necessidade de ser mais uma tese do que um espetáculo, como aconteceu com "Cidade de Deus" e os "Tropa de Elite". Por outro, alivia a produção do encargo de encenar um evento de grandes proporções.

    Enquanto conceito, "Alemão" tem, no mínimo, essas qualidades. O problema ocorre, em parte, quando se tenta dar corpo ao conceito, transformar ideias em ato, em suma, filmar.

    O talento de José Eduardo Belmonte para fazer os atores perderem seus postos seguros, já demonstrado em seus trabalhos anteriores, aqui nunca sai da caricatura.

    Cauã Reymond, Gabriel Braga Nunes e Otávio Müller, por exemplo, ficam sempre nas atuações de cigarro e nas falas entrecortadas por respiração curta. E a participação de Antonio Fagundes seria mais forte se ficasse simbólica, sem nos impor uma constrangedora cena numa igreja e outra de dor.

    Por essas e outras, "Alemão" é apenas uma boa ideia que não deu certo. Ciente das insuficiências, alguém ainda decidiu inserir imagens das manifestações de 2013 para nos dizer: "Olhem, é disso que estamos falando!". Seria melhor se desconfiasse do poder do discurso.

    ALEMÃO
    DIREÇÃO José Eduardo Belmonte
    PRODUÇÃO Brasil, 2014
    ONDE Anália Franco UCI e circuito
    CLASSIFICAÇÃO 16 anos
    AVALIAÇÃO regular

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