O confinamento de orcas e baleias para exibições em parques foi posto em xeque pela cineasta norte-americana Gabriela Cowperthwaite, 43, com "Blackfish - Fúria Animal". O documentário estreia em São Paulo amanhã na 3ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental (veja programação abaixo) e também chega em DVD e Blu-Ray.
Filha de mãe brasileira, a cineasta traz depoimentos fortes do tratamento cruel em cativeiro imposto a esses animais, ao passo em que analisa a morte de seus treinadores, como a de Dawn Brancheau —puxada para o fundo de um tanque pela orca Tilikum no SeaWorld de Orlando, em 2010.
O filme, que chegou a ser cotado para o Oscar 2014 e venceu o Bafta (principal prêmio do cinema britânico), colocou o parque que fatura US$ 2,5 bilhões e recebe 25 milhões de visitantes/ano numa situação difícil perante a opinião pública: virou tema de debates televisivos e de protestos populares nos EUA.
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Cena do documentário 'Blackfish - Fúria Animal' |
Em nota à Folha, a representação do parque em São Paulo afirma que o documentário "é impreciso e enganoso" e omite o fato de que o SeaWorld resgata, reabilita e devolve à natureza centenas de animais selvagens.
Para Cowperthwaite é "preciso repensar a nossa relação com esses animais". Veja os principais trechos da entrevista concedida à Folha.
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Folha - O que a levou a fazer o filme?
Gabriela Cowperthwaite - Não conseguia entender porque Dawn Brancheau, uma treinadora experiente do SeaWorld, foi morta por uma orca. A história não fazia sentido para mim. Foi um acidente? O que a baleia planejava? Eu não conseguia entender isso.
Como foi a reação do público?
Estou absolutamente surpreendida sobre como o filme mudou a mentalidade das pessoas. Mudou a minha. O documentário ajuda a imaginar um mundo onde nós tratamos outros seres do planeta com amor e dignidade.
O que mudou na sua vida?
Me fez pensar em tudo de forma diferente. Uma bela criatura que nos inspira e nos fascina, nos fez consumi-la, dominá-la. Isso me fez entender que prender orcas e exibi-las em shows não é certo.
Trailer de 'Blackfish - Fúria Animal'
Assista ao vídeo em tablets e celulares
O fato de não ter sido indicado ao Oscar foi uma surpresa?
Não, mas nós já havíamos ganho a maior vitória: mais de 20 milhões de pessoas assistiram nosso filme e mudou a forma como as pessoas veem essa indústria, que acreditávamos cegamente.
Houve pressão da indústria dos parques aquáticos?
Fazer o filme foi muito desafiador, mas é preciso ter cuidado para não melindrar seu público. Mas o SeaWorld nunca me pressionou e nem me ameaçou.
A sra. tem alguma ligação com a causa dos mamíferos marinhos?
Não. Eu não sabia nada sobre orcas e nunca fui uma ativista em defesa desses animais. Na verdade, eu até levava os meus filhos para os shows do SeaWorld.
O que os seus filhos acharam do seu documentário?
Meus filhos gêmeos amaram o filme. Eles não entendem porque as pessoas levariam uma orca bebê para longe da mãe. Aquela cena ficou na cabeça deles por um tempo.
O SeaWorld foi procurado para participar do filme?
Levei dois anos para fazer o filme e, por um ano e meio, estive em contato com eles porque achei que concordariam em ser entrevistados. Mas eles se negaram.
O SeaWorld pode ser substituído ou transformado em uma atração mais "humana"?
Acredito que os parques SeaWorld precisam estar a frente, na vanguarda na questão de não explorar animais para entretenimento. Há muitas maneiras de ver baleias e orcas de perto sem destruir suas vidas.
BLACKFISH - FÚRIA ANIMAL
(BLACKFISH)
DIREÇÃO Gabriela Cowperthwaite
QUANDO sex. (21), às 20h, na Matilha Cultural e dia 27, às 19h, no Cine Livraria Cultura
QUANTO Gratuito
CLASSIFICAÇÃO 12 anos