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    Juçara Marçal abre ferida em disco solo 'Encarnado'

    RAMIRO ZWETSCH
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    21/03/2014 03h14

    Uma mulher que canta com sangue nos olhos e faca nos dentes: essa é a sensação que Juçara Marçal provoca em "Encarnado", seu primeiro disco solo. Integrante do trio Metá Metá e do grupo vocal Vésper, ela acumula mais de 20 anos de carreira e há tempos arrebata ouvintes por dispensar aquele polimento na voz tão fundamental às divas.

    Os arranjos do disco são construídos quase totalmente a partir das guitarras de Kiko Dinucci e Rodrigo Campos (ambos compõem o quarteto Passo Torto, com Romulo Fróes e Marcelo Cabral), com a rabeca de Thomas Rohrer, além de participações pontuais de um sax (tocado por Thiago França) e um cavaco (também de Rodrigo Campos) — nada de baixo ou bateria.

    "Venho experimentando este jeito mais agressivo de cantar desde o primeiro disco do Metá Metá e isso ganhou mais relevo neste trabalho: exploro um timbre mais rasgado no agudo, mordendo o texto, berrando em várias alturas. Acho que tudo isso dá essa sensação de faca no dente", diz a cantora.

    Karime Xavier/Folhapress
    Juçara Marçal em praça no bairro da Aclimação, em SP
    Juçara Marçal em praça no bairro da Aclimação, em SP

    "O fato da voz estar muito colada ao raspado do toque das guitarras afia ainda mais essa lâmina. Não tem o gravão do baixo, do bumbo da bateria. Toda a instrumentação varia entre o médio e o agudo, essa região que a gente associa inevitavelmente ao cortante, ao pontiagudo."

    Juçara abre um pouco mais a ferida na escolha do repertório, com composições de Tom Zé, Itamar Assumpção, Romulo Fróes, Gui Amabis e outros. A morte é uma assombração constante nas letras.

    "Ciranda do Aborto" (Kiko Dinucci) trata do incômodo assunto do título; "Velho Amarelo" (Rodrigo Campos) começa com os versos: "Não diga que estamos morrendo /Hoje não"; "A Velha Capa Preta" (Siba) explora a morte na forma de esqueleto e foice em punhos; e "Damião" (Douglas Germano) evoca vingança a Damião Ximenes Lopes, morto por espancamento em 1999, na Casa de Repouso de Guararapes (CE).

    "Quando o repertório ficou pronto, vi que havia esse mote. Não me surpreendi", diz.

    Essa tríade — jeito agressivo de cantar, instrumental baseado nas guitarras, morte como tema recorrente — aproxima "Encarnado" do rock, mas não basta para enquadrar a obra em um gênero.

    "É um disco de canção. Se é rock, se é samba, se é MPB, aí já não consigo ver encaixe duradouro", diz. "Tento sempre ir até o osso da canção para achar algo na forma de tocar e cantar que se ligue a ela de uma maneira vital. Como se achado aquele detalhe, ela não pudesse mais viver sem aquilo. Testo os tons e a inflexão das palavras."

    Lançado há um mês na internet, "Encarnado" está disponível para download gratuito no site da artista. Já foi baixado por 10 mil pessoas. Ela lança o CD, em tiragem limitada a 500 cópias, em show em abril no Sesc Vila Mariana.

    JUÇARA MARÇAL
    QUANDO 15/04, às 21h
    ONDE Sesc Vila Mariana, r. Pelotas, 141, (11) 5080-3000
    QUANTO R$ 4,80 a R$ 24; álbum disponível para download gratuito no site www.jucaramarcal.com
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos

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