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    É legítimo amar ou odiar Marighella, diz biógrafo Mário Magalhães

    LÚCIO FLÁVIO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BRASÍLIA

    13/04/2014 18h54

    Um dos nomes mais importantes da esquerda brasileira, o guerrilheiro Carlos Marighella metia medo entre os seus pares, mas, sobretudo, nos militares, que o cassaram como uma fera.

    "Cuidado, que o homem é valente", alertou Cecil Borer, diretor do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) do Rio de Janeiro.

    Essas e outras histórias são contadas pelo jornalista e escritor Mário Magalhães no livro "Marighella - O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo", lançado na noite de sábado (12), na 2ª Bienal do Livro e da Literatura, em Brasília.

    A biografia, ganhadora de seis importantes prêmios, é resultado de nove anos de pesquisa e mostra ser o documento mais completo e importante sobre a vida do polêmico guerrilheiro. Uma vida que daria um filme, e vai virar, pelas mãos do ator Wagner Moura, que comprou os direitos do livro junto com a O2 de Fernando Meireles.

    Braz Bezerre 31.jul.1964/Agência Jornal do Brasil
    Carlos Marighella, deputado federal, líder comunista e fundador da Ação Libertadora Nacional, que morreu assassinado no dia 04 de novembro de 1967
    Carlos Marighella, deputado federal, líder comunista e fundador da Ação Libertadora Nacional

    "O filme baseado no meu livro vai ser rodado em 2015, lançado em 2016 e marca a estreia de Wagner Moura na direção", conta Magalhães.

    "Não encontrei uma vida de tirar mais o fôlego do que a vida do Marighella", disse Mário Magalhães à Folha, minutos antes de participar do debate Futebol e Ditaduras na América Latina, junto com o escritor uruguaio Eduardo Galeano.

    *

    Folha - Por que é importante contar a história do Marighella?
    Mário Magalhães - Primeiro porque é impossível conhecer a história do Brasil do século 20, sem conhecer a trajetória do Marighella, goste ou não dele. É legítimo amar o Marighella, é legítimo odiá-lo. Mas é impossível ficar indiferente à trajetória trepidante que ele teve. O Marighella é um personagem destacado da história do Brasil por quatro décadas. Dos anos 30 aos anos 60. Do ponto de vista de jornalista, eu queria fazer um mergulho profundo numa reportagem sobre vida, portanto uma biografia, sem as amarras de tempo para apurar e espaço para escrever. Eu fui buscar uma vida frenética para contar. Não encontrei uma vida de tirar mais o fôlego do que a vida do Marighella. Foi uma escolha de repórter e o meu desafio literário foi produzir uma narrativa de tirar o fôlego assim como foi a vida dele.

    É uma vida que dá um filme?
    A trajetória já rendeu, pelo menos, quatro documentários. E agora vai sair o primeiro filme de ficção baseado na vida de Marighella porque cedi os direitos de adaptação do livro para o Wagner Moura e para a produtora O2 (De Fernando Meireles). O filme baseado no meu livro vai ser rodado em 2015, lançado em 2016 e marca a estreia de Wagner Moura na direção.

    Você sabe quem será o Marighella?
    Não. O Wagner decidiu que o corte do filme vai de 1964 a 1969. Meu livro tem três partes e ele escolheu a terceira e última parte e ele vai fazer testes para escolher o ator.

    Aos olhos da esquerda e da direita o guerrilheiro era uma figura bipolar. Não agradava muito nem um lado, nem outro? Por quê?
    Trabalhei nove anos no livro, de 2003 a 2012, dos quais mais de cinco anos em dedicação exclusiva. Não faltavam partidários do Marighella, a exaltar seus feitos. Muito menos antagonistas a demonizá-lo. O meu desafio era contar a história dele, sem fazer julgamento. Ou seja, o trabalho clássico de repórter. No livro eu conto o que o Marighella fez, disse e, na medida do possível, o que ele pensou. Meu desafio era fornecer informações que cada leitor pudesse formar a sua própria opinião.

    Porque Marighella é uma figura injustiçada, um maldito no Brasil?
    É curioso que hoje, passado 40 anos do assassinato dele, o Marighella parece despertar mais amor e mais ódio do que nos tempos de maior projeção dele. Eu desconfio que isso tem a ver um pouco com as ideias que ele defendeu a vida toda e muito mais pela atitude dele nos anos finais, como militante da luta armada, e que ele transformou a ação quase num fetiche.

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