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    Todos são conservadores, diz João Pereira Coutinho, que lança livro

    MARCO RODRIGO ALMEIDA
    DE SÃO PAULO

    26/04/2014 03h12

    Como quase tudo na vida, é mais fácil definir o pensamento conservador pelo que ele não é do que pelo que é.

    O colunista da Folha João Pereira Coutinho afirma que o conservador, ao contrário do que se costuma atribuir a ele, não é um autoritário, um imobilista, um reacionário ou um sujeito antiquado de bengala e cartola.

    E o que seria, afinal de contas? Para responder, Coutinho, que é cientista político e professor da Universidade Católica Portuguesa, lança agora pela Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha, o livro "As Ideias Conservadoras Explicadas a Revolucionários e Reacionários".

    Adriano Vizoni/Folhapress
    João Pereira Coutinho na Casa Folha, durante o terceiro dia da decima edicao da Flip, em 2012
    João Pereira Coutinho na Casa Folha, durante o terceiro dia da decima edicao da Flip, em 2012

    Todos somos, de certa forma, conservadores, define o livro. Todos queremos conservar família, amores, amigos. Para alguns pensadores, o conservadorismo é uma "força constante" da natureza que se manifesta com maior intensidade em certos homens, propensos a valorizar, por exemplo, o que é familiar e disponível em vez do desconhecido e hipotético.

    O que não significa, evidentemente, que tenhamos todos uma preferência política pelo conservadorismo.

    Com a verve que lhe é peculiar, Coutinho arremata: "No fundo, ser conservador em política é afirmar: eu não sou uma criança; não preciso que o Estado seja o meu babysitter; eu desejo que o Estado me deixe em paz para eu tentar, acertar ou falhar por minha conta e risco".

    Guiado pelo filósofo Edmund Burke (1729-1797), precursor do conservadorismo moderno, o autor argumenta que a ideologia conservadora é o modo de a sociedade preservar o melhor que, com base na tradição democrática, ela criou para garantir a liberdade das pessoas e o vigor das instituições. Leia trechos da entrevista.

    *

    Folha - Como você definiria, de maneira simples, o conservadorismo como ideologia?
    João Pereira Coutinho - Como a história da Bela Adormecida. O conservadorismo desperta como ideologia quando existe o beijo da ameaça radical, seja revolucionária ou reacionária.

    Por ser uma ideologia sem cartilha a priori, sem um "ideal substantivo", o conservadorismo não é menos atrativo que outras ideologias?

    Sem dúvida. As pessoas querem respostas rápidas para problemas complexos. E as cartilhas, de esquerda ou de direita, oferecem essas respostas rápidas. Infelizmente, não existe nenhuma "chave". E não existe nenhuma cartilha que, "a priori", nos diga qual o caminho a seguir.

    Muitos pensadores, como Frederich Hayek, já criticaram o fato de que o conservador não tem nada a propor.
    Hayek tem razão se ele fala da política em abstrato. Claro que, em abstrato, nada tenho a propor. Repito: sem conhecer o problema, não sou capaz de sugerir uma solução.

    Não é mais difícil para a ideologia conservadora se firmar em países pobres, nos quais a população não se reconhece nas instituições e na tradição?

    É evidente que, à primeira vista, a atitude conservadora, o impulso de conservar o que é útil e benigno, será mais facilmente aceito por uma sociedade com um nível de desenvolvimento apreciável. Mas mesmo países com níveis de desenvolvimento mais modestos têm muito a aprender com a atitude conservadora: na recusa de soluções utópicas; na desconfiança ante um poder político que se considera onipotente.

    No Brasil, por conta da ditadura, o conservadorismo ficou associado ao autoritarismo.
    Em Portugal também. Como é evidente, tanto o Estado Novo português quanto a ditadura militar brasileira, ao desprezarem a lei, a democracia, os direitos individuais e as escolhas de cidadãos livres, não são regimes conservadores.

    AS IDEIAS CONSERVADORAS
    AUTOR João Pereira Coutinho
    EDITORA Três Estrelas
    QUANTO R$ 25 (128 págs.)

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