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    Crítica: Pianista Nikolai Lugansky faz exibições impecáveis na Sala São Paulo

    SIDNEY MOLINA
    CRÍTICO DA FOLHA

    05/05/2014 12h02

    O compositor Sergei Rachmaninov (1873-1943) foi o elo entre as duas diferentes apresentações do pianista russo Nikolai Lugansky na Sala São Paulo semana passada. O bis na quinta-feira (24/4), "Étude-Tableaux" op.33 n.8, conversou com o "Prelúdio" op.32 n.13, tocado no final do recital solo na terça-feira (22/4).

    Nesse bis ele recuperou o som intimista de dois dias antes, diferente interpretação pujante que acabara de realizar como solista da Osesp no "Concerto n.3" do mesmo Rachmaninov.

    Quem passa os olhos apressadamente na programação 2014 da Osesp pode sentir falta de programas impactantes; é, entretanto, na amarração das obras —tanto em cada programa como ao longo das semanas— que está a sua força

    Essa experiência sonora contínua e cumulativa passa pelo mergulho em alguns repertórios, como foi com Stravinsky nas semanas protagonizadas pelo pianista Jean-Efflam Bavouzet e, agora, com "os Rachmaninov" de Lugansky.

    Divulgação
    O pianista russo Nikolai Lugansky
    O pianista russo Nikolai Lugansky

    Regida por Isaac Karabtchevsky —prestes a completar 80 anos, no auge da experiência e energia— a orquestra tocou bem: violas estavam inspiradas, e o todo das cordas contornava e apoiava o som do piano com delicadeza e sintonia.

    Isaac e Lugansky foram impecáveis nos climas, pesos e condução das frases. E se alguém quisesse pedir um pouco mais das trompas (e dos sopros em geral), esse algo veio na segunda parte, com uma versão madura da (ainda não madura) "Sinfonia n.1" de Tchaikovsky (1840-93).

    Madeiras, em especial, arrasaram: espetacular solo de oboé, e fusão inesquecível de timbre, articulação e coração no uníssono de flauta e oboé.

    Mas, para entender a arte de Nikolai Lugansky, precisamos voltar ao recital solo de terça-feira. Antes de apresentar na sequência os transcendentais 13 prelúdios do op.32 de Rachmaninov, duas obras mostraram a sua capacidade de controlar no som a relação entre afetos e ideias.

    Não há, no século 19 —pelo menos até chegarmos ao jovem Schoenberg (1874-1951)— muitas músicas capazes de fundir as formas rigorosas do contraponto bachiano com o cromatismo de Wagner (1813-83) e Liszt (1811-86). Por isso não há muitas obras como o "Prelúdio, coral e fuga" do belga César Franck (1822-90).

    Lugansky pasou por Franck com clareza polifônica, sem distorcer os fortes nem perder corpo na passagens leves, e seguiu a evocar sarcasmos na difícil "Sonata n.4" de Prokofiev (1891-1953). Tomara ele volte logo a São Paulo.

    Nikolai Lugansky piano solo
    Avaliação ótimo

    Nikolai Lugansky com Osesp e Isaac Karabtchevsky
    Avaliação ótimo

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