Alguns meses atrás, uma menininha de voz surpreendente ficou alta demais para continuar interpretando Matilda na Broadway. Isso a entristeceu. Mas ela também ficou feliz, porque isso lhe dava enfim a chance de se apresentar com sua irmã mais velha.

É verdade que elas interpretariam canções de cabaré muito antes de chegarem à idade legal para beber e só poderiam se apresentar bem cedo, porque o horário normal dos shows de cabaré acontece depois da hora de elas irem dormir.

Mas, embora possa ter sido um pouco estranho assistir ao show de Milly, 11, e Abigail Shapiro, 13, no 54 Below, em Nova York, com diálogos de palco ensaiados e tudo mais, a mãe descreveu a ocasião como uma oportunidade bem-vinda de as meninas criarem um espetáculo próprio, em vez de estrelarem produções alheias. "É disso que elas brincam", diz Michelle Shapiro.

Ela acrescenta que "nós sempre vimos esses shows como a versão delas de praticar futebol, uma atividade pós-escola. Mas, por acaso, elas são ótimas nisso".

As meninas já têm credenciais impressionantes. Milly dividiu um prêmio Tony especial com as outras três meninas que interpretam o papel-título em "Matilda the Musical", e Abigail interpretou Cindy-Lou Who em uma nova montagem de "Dr. Seuss's How the Grinch Stole Christmas", no Theater at Madison Square Garden.

Van Dean, produtor musical que foi apresentado a Milly quando estava dirigindo as gravações do álbum de "Matilda the Musical", concebeu o show depois que a menina contou que sempre tinha desejado se apresentar com Abigail. "Eu gosto muito de ficar com a minha irmã", disse Milly.

"Elas estão muito a frente de suas idades", disse Dean. "Levam muito a sério a técnica em seus espetáculos. Querem continuar no ramo por muito tempo".

O repertório das irmãs Shapiro incluía alguns duetos, mas, no geral, as meninas se alternavam em números solo. Milly cantou "Born to Entertain", de "Ruthless! The Musical", e Abigail escolheu "Gimme, Gimme", de "Thoroughly Modern Millie", e assim por diante.

"Tentamos descobrir quais canções cairiam bem para nós", diz Abigail. "E que gostássemos de cantar", acrescenta Milly.

As meninas são claramente irmãs (as duas têm cabelos loiros e rostos largos, com olhos azuis no caso de Milly e castanhos no caso de Abigail) e é evidente que são muito próximas (dividem um quarto e uma bicama). Abigail recentemente concedeu a Milly o troféu de "melhor irmã do mundo", e as duas sabem manter a pose (Milly cruza as pernas cuidadosamente durante a entrevista, como se fosse uma celebridade em um talk show). Porém, cada uma tem sua personalidade.

Milly está se aproximando de Abigail em altura, mas Abigail é claramente a mais velha: mais responsável, cuidadosa e protetora. Foi Abigail que escreveu o roteiro do show e que disse ao diretor que ela e a irmã teriam o mesmo número de solos.

"Abby é mais cerebral, mais preocupada com detalhes", disse Eric Shapiro, pai das meninas, que vive em Tampa, Flórida. "Se elas não tem um espetáculo para fazer, parecem meio perdidas".

Milly é mais dada a caprichos, mais bagunceira e mais imprevisível. Se a irmã tenta abraçá-la, diz: "Opa! Esse é meu espaço pessoal!", conta.

A mãe das meninas diz que tem uma vida profissional movimentada, trabalhando para uma empresa de tecnologia do Vale do Silício, e que por isso não é a típica mãe de uma estrela infantil. Ela diz que as filhas sempre quiseram atuar nos palcos, desde quando brincavam na banheira. Elas costumavam usar o xampu para fazer penteados em forma de chifre e cantavam como uma dupla de unicórnios ensaboados.

Parte dos proventos do espetáculo das irmãs irá para a No Bully, organização que combate o assédio em escolas. "Todo mundo passa por bullying, de alguma maneira", diz Milly. "Não é certo, e precisamos acabar com isso".

Até agora, as irmãs vêm comemorando os sucessos uma da outra. Neste ano, Abigail acompanhou Milly à cerimônia do Grammy, na qual "Matilda" estava disputando o prêmio de melhor álbum de elenco, e ao Tony.

Milly, em geral, não se incomoda que Abigail tome as decisões. "Ela é o contrário de mandona", diz Milly. "Só fica mandona quando quer um abraço meu."