Depois de três meses e meio em cartaz, a retrospectiva de Lygia Clark (1920-1988) no MoMA fechou suas portas neste domingo (24).
Com cerca de 300 trabalhos, a artista brasileira ocupou espaço nobre no museu nova-iorquino. "Em termos de audiência geral foi um sucesso absoluto", diz Luis Pérez-Oramas, curador da mostra ao lado de Connie Butler.
Ele conversou com a Folha sobre as repercussões da exposição e rebateu a crítica do jornal "The New York Times", que cobrou mais contextualização e didatismo. O "Financial Times" foi outro veículo a fazer ressalvas à mostra.
Para o curador, mostras que fogem ao cânone da arte norte-americana costumam deixar alguns críticos "irritados". O venezuelano, que também curou a Bienal de São Paulo em 2012, faz um balanço da retrospectiva e avalia as reações que provocou.
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Visitante manipula obra de Lygia Clark durante exposição no MoMA, em Nova York |
Folha - Como você avalia a recepção da mostra?
Luis Pérez-Oramas -* Eu acredito mais nos efeitos tardios do que nos imediatos. Isso não quer dizer que não tivemos efeitos imediatos. Nunca tinha visto aqui um catálogo esgotar um mês e meio depois da abertura. Vi as pessoas absolutamente fascinadas e intrigadas com a obra.
E a opinião da crítica?
Houve uma diferença entre as críticas muito positivas que recebemos na Europa e algumas menos entusiasmadas que tivemos no "mainstream" da crítica da imprensa nova-iorquina. Eu não gostaria de magnificar a importância desses críticos, mas acho problemática a ignorância fundamental com relação a tudo aquilo que não é arte norte-americana. Quando uma instituição apresenta um capítulo esquecido ou não considerado pela hegemonia canônica da arte dos EUA do pós-guerra, a reação é de irritação. Eles se sentem irritados. Com sua própria ignorância, obviamente...
O "The New York Times" disse que a exposição às vezes é irritante e cobrou mais contextualização. O que você pensa sobre essas críticas?
É uma atitude paternalista. A ideia que está por trás disso é que exposições latino-americanas, mesmo de artistas enormes como a de Lygia Clark, têm que ser para crianças, mostras infantis e didáticas. Você pode fazer exposições do [pintor Willem] de Kooning muito sofisticadas, mas a da Lygia Clark tem que ser o beabá. Um nível muito mais interessante de recepção é o do pessoal que realmente conhece a dimensão múltipla e poliforme da história da arte. Figuras como Robert Storr, Yve-Alain Bois, Briony Fer ou Hans Ulrich Obrist. Esses se manifestaram com uma generosidade, uma eloquência e uma aprovação que, ao meu ver, legitimam a mostra. São essas as figuras que interessam, que estão produzindo obra intelectual. É essa a crítica que produz os efeitos duradouros, que eu mencionei no início.
Você teve algum comentário de artistas?
Houve muito interesse, especialmente de jovens que trabalham com performance e querem revisitar a história da arte que se manifesta por meio da gestualidade corporal. Mas pintores também gostaram. Eles encontraram na Lygia um interlocutor que não conheciam. Foi uma reação maravilhosa, para mim uma revelação. E nesse momento você realmente se dá conta da absoluta pertinência dela hoje.