Ninguém no cinema despedaçou mais corações masculinos do que Marlene Dietrich.
Por cerca de 30 anos a atriz alemã (1901-1992) interpretou quase invariavelmente mulheres que faziam dos homens gato e sapato, capazes de tirar dos trilhos mesmo os mais respeitáveis cidadãos.
Essa longa história de sedução será exibida a partir desta quarta (17) no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo. A retrospectiva terá 25 dos principais filmes da atriz, compreendendo um período entre 1929 e 1961.
Dietrich começou a atuar no cinema em 1919. Por uma década teve papéis de pouco destaque em filmes hoje praticamente esquecidos.
A sorte começou a mudar em 1930, com o lançamento de "O Anjo Azul", filme que fez da atriz uma sensação internacional.
Neste clássico expressionista do cineasta austríaco Josef von Sternberg (1894-1969), Dietrich interpretou a dançarina de cabaré Lola Lola, sedutora que arrasa a vida de um reputado professor (Emil Jannings).
Nascia ali, já completamente lapidado, o mito de "vamp", mulher fatal de reputação pra lá de duvidosa, tão perigosa quanto irresistível.
Sternberg foi o criador da "persona Dietrich" nas telas. Biografias contam que ele dirigia cada gesto da musa com rigor tirânico.
Eles foram amantes por alguns anos e, após o sucesso de "O Anjo Azul", fizeram mais seis filmes juntos, nos Estados Unidos: "Marrocos" (1930), "Desonrada" (1931), "O Expresso de Shanghai" (1932), "A Vênus Loura" (1932), "A Imperatriz Vermelha" (1934) e "Mulher Satânica" (1935).
Em conjunto, esses sete filmes são considerados o auge da carreira de Dietrich nas telas. Serão os únicos da retrospectiva com cópia em película —os demais serão exibidos em DVD ou Blu-ray.
Fora a qualidade artística de cada um deles, os longas impressionam pelo comportamento de Dietrich, muito ousado para a época.
Em "Marrocos", por exemplo, ela, trajada de smoking e cartola, paquera e beija outra mulher na boca durante uma apresentação musical.
"Ela sempre foi uma mulher muito moderna, transgressora. Não tinha receio de expor a própria sexualidade. Hoje é até difícil perceber o quanto foi emancipada para a época", diz o curador da mostra, o alemão Arndt Roskens.
Embora nunca mais tenha tido uma parceria tão frutífera com outro diretor depois de Sternberg, Dietrich trabalhou com vários dos grandes do cinema.
Com Ernst Lubitsch (1892-1947), por exemplo, pôde se exercitar no campo das comédias sofisticadas em "Anjo" (1937). Foi dirigida ainda por Raoul Walsh (1887-1980), Billy Wilder (1906-2002), Alfred Hitchcock (1899-1980), Orson Welles (1915-1985).
Com Fritz Lang (1890-1976) teve um breve e tumultuado romance. Lang era tão genioso quanto Sternberg, e Dietrich não ficava muito atrás.
Dietrich também provocou suspiros no escritor Ernest Hemingway (1899-1961) e, comenta-se, até mesmo em Adolf Hitler (1889-1945).
Hitler, por sinal, também deve ter ficado de coração partido. Dietrich recusou-se a voltar a filmar na Alemanha, tornou-se cidadã norte-americana em 1937 e apoiou as tropas aliadas na luta contra os nazistas durante a Segunda Guerra, visitando e cantando para os soldados na Europa.
DESTAQUES DA MOSTRA
"O Anjo Azul" (1930)
Direção Josef von Sternberg
Quando Hoje (17), às 19h; 27/9, às 16h; 2/10, às 19h
> A atriz tornou-se um mito do cinema ao interpretar Lola Lola, uma sensual e perigosa dançarina de cabaré. Primeira parceria com Sternberg
"Marrocos" (1930)
Direção Josef von Sternberg
Quando 20/9, às 16h; 22/9, às 17h; 25/9, às 19h
> A estreia nos EUA traz uma cena muito ousada para a época: Dietrich, de smoking e cartola, beija outra mulher na boca
"A Mulher Satânica" (1935)
Direção Josef von Sternberg
Quando Hoje (dia 17), às 19h; 24/9, às 17h; 27/9, às 18h
> O título diz tudo - Dietrich enreda dois amigos em uma teia de ciúme, loucura e obsessão
"Anjo" (1937)
Direção Ernst Lubitsch
Quando 21/9, às 14h; 3/10, às 17h; 16/10, às 19h
> Neste longa dirigido por Lubitsch, mestre da comédia, a atriz interpreta uma mulher insatisfeita que se apaixona pelo amigo do marido
"Pavor nos Bastidores" (1950)
Direção Alfred Hitchcock
Quando 21/9, às 18h; 11/10, às 14h; 20/10, às 19h
> Dietrich é uma famosa atriz que pode ou não ter matado o marido neste filme do mestre do suspense
"O Diabo Feito Mulher" (1952)
Direção Fritz Lang
Quando 20/09, às 18h; 10/10, às 16h; 15/10, às 17h
> Dietrich teve um breve romance com Lang durante o trabalho, mas terminaram as filmagens sem falar um com o outro
"Testemunha de Acusação" (1957)
Direção Billy Wilder
Quando 26/9, às 19h30; 18/10, às 16h
> Receita imbatível: história de Agatha Christie, direção de Wilder e Dietrich no papel de uma mulher de moral duvidosa
"A Marca da Maldade" (1958)
Direção Orson Welles
Quando 27/9, às 13h30; 1º/10, às 19h; 17/10, às 19h
> Papel pequeno, mas marcante, no noir do diretor de "Cidadão Kane"
MARLENE
ONDE Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo (rua Álvares Penteado, 112; tel. 0 xx 11 3113-3651)
QUANDO de hoje (17) a 20/10
QUANTO R$ 4
PROGRAMAÇÃO confira em www.culturabancodobrasil.com.br