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    Crítica: Tecnologia em excesso tira a expressão de 'A Bela e a Fera'

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    28/09/2014 02h34

    Um dos mais filmados contos de fadas do século 18 chega ao século 21 revestido de alta tecnologia. Mas, como o "lifting" feito pelas celebridades, "A Bela e a Fera" de hoje parece uma fantasia plastificada. Perdeu as marcas do tempo e, junto, toda expressão.

    A história criada pela escritora francesa Jeanne-Marie Leprince de Beaumont (1711-1780) narrava o sacrifício de uma linda jovem que, para salvar a vida do pai, vai viver no castelo de uma criatura monstruosa.

    Na fábula, vinham à tona temas como o aprendizado da virtude e a diferença entre aparência e essência, em meio a um difuso erotismo subjacente na proximidade da pureza da moça com a voracidade instintiva da fera.

    O diretor francês Christophe Gans retoma a história que já ganhou dezenas de adaptações para o cinema e a TV. Entre elas, uma paradigmática apropriação pelo cineasta-poeta Jean Cocteau em 1946 e, em 1991, a animação da Disney instantaneamente incorporada à imaginação infantil e adulta.

    Divulgação
    A atriz francesa Léa Seydoux em cena como Bela, a protagonista do filme dirigido por Christophe Gans
    A atriz francesa Léa Seydoux em cena como Bela, a protagonista do filme dirigido por Christophe Gans

    Léa Seydoux e Vincent Cassel, dois astros do cinema francês, protagonizam a nova versão, mas o prato principal da refilmagem são os efeitos visuais.

    O cenário rural onde a família de Bela se refugia depois que seu pai vai à falência evoca as ilustrações antigas dos livros infantis e corresponde a um esforço do filme de retorno às origens.

    Na maior parte da história, porém, predomina o esquema de ação incessante do blockbuster contemporâneo.

    Nele, a tecnologia deixa de ser apenas suporte para alimentar a fantasia, pois acredita-se que ela funcione melhor com base na saturação dos sentidos, tornando-se demais.

    Cada milímetro da imagem vem desenhado e ocupado por todo tipo de efeito gerado em computação gráfica, dos cenários que se transformam às criaturinhas fofinhas que vivem no castelo.

    Como isso ganha valor próprio e superior e deixa de funcionar para alavancar a narrativa, perdemos o interesse na fábula e nos transformamos numa massa de neurônios atordoados por tanto estímulo.

    A BELA E A FERA
    (LA BELLE ET LA BÊTE)
    DIREÇÃO Christophe Gans
    ELENCO Vincent Cassel, Léa Seydoux e André Dussollier
    PRODUÇÃO França/Alemanha, 2014, 12 anos
    AVALIAÇÃO regular

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