A sátira da propaganda eleitoral gratuita que abre "O Candidato Honesto" cria uma boa expectativa ao apresentar a irresistível ascensão de João Ernesto Praxedes (Leandro Hassum), da infância miserável no Nordeste até a candidatura à Presidência.
Mas daí em diante tudo desanda, pois o filme aposta em dois equívocos: na premissa de que todos os políticos são corruptos, uma generalização que não exprime nada além de preconceito, e no humor rasteiro típico de programas vespertinos de televisão –outra demonstração de preconceito.
Praxedes é um ex-líder do sindicato dos motoristas de ônibus do Rio de Janeiro que se torna deputado federal e anos depois disputa as eleições presidenciais.
Verborrágico, descarado e demagogo, está envolvido em várias maracutaias. Às vésperas do segundo turno, estoura o escândalo da "mesadinha" e João —que lidera as pesquisas— corre o risco de perder a eleição.
ARTIFICIAL
Por conta de uma maldição, reviravolta artificial demais no contexto, ele não consegue mais mentir e essa súbita sinceridade o mete em mais enrascadas.
São meros pretextos para novas enxurradas de piadas grosseiras sobre puns e outras emanações escatológicas, sobre as avantajadas gengivas da mulher, sobre as preferências sexuais do principal assessor e por aí afora.
Hassum continua igual a si mesmo. Pouco importa o personagem que interpreta —pode ser um pipoqueiro ou um marciano—, seu registro é imutável, ou seja, mobiliza sempre os mesmos parcos recursos para tentar fazer rir. Monocórdio, ainda parece estar no programa "Zorra Total" (Globo).
Observar a política pelas lentes do humor é uma saudável tradição no Brasil.
A irreverência e o deboche são poderosos instrumentos de análise e crítica quando usados com inteligência, como fizeram o pícaro Barão de Itararé (1895-1971) e muitos outros.
Mas tanto crítica quanto inteligência são simplesmente inexistentes nessa comédia infantiloide.
O CANDIDATO HONESTO
DIREÇÃO Roberto Santucci
ELENCO Leandro Hassum, Luiza Valdetaro, Victor Leal
PRODUÇÃO Brasil, 2014, 12 anos
AVALIAÇÃO ruim