À primeira vista, a protagonista de "Jane the Virgin" guarda pouca semelhança com qualquer outra personagem da televisão.
O seriado, misto de comédia e drama que estreia nos Estados Unidos no dia 13, apresentará uma jovem hispano-americana ambiciosa (Gina Rodriguez) que pratica a abstinência sexual.
No entanto, por uma série de coincidências e acidentes, engravida após uma inseminação artificial feita com material genético do filho de seu chefe.
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Gina Rodriguez, à esquerda, com Andrea Navedo em 'Jane the Virgin' |
Se o público puder passar por cima dessa trama improvável, talvez perceba que compartilha mais do que imagina com Jane, que vem de uma família matriarcal em que várias gerações convivem e mais de uma língua é falada. E que a ensinou a valorizar a castidade.
Para Rodriguez, filha de migrantes porto-riquenhos e criada em Chicago, o piloto de "Jane the Virgin" lhe pareceu "a representação mais autêntica e genuína" de uma família latina que ela já viu na televisão americana.
"Finalmente eu estava lendo um roteiro em que não estavam falando de minha etnia", comentou a atriz. "Não estavam prendendo uma bandeira porto-riquenha às minhas costas nem colocando um taco na minha mão."
Adaptação aproximada de uma telenovela venezuelana, o seriado é um dos esforços mais recentes da televisão aberta americana de criar um programa que encontre eco com o público latino que fala inglês, e, ao mesmo tempo, atrair o público multiétnico.
A atração de um programa desse tipo é evidente: de acordo com o censo norte-americano, 17,1% da população do país —mais de 54 milhões de pessoas— se identifica como hispânica ou latina. Mas há décadas os programas da televisão aberta traçam um retrato estereotipado dos hispânicos.
"Quando você começa a fazer comédia com o estereótipo latino, as pessoas tendem a manter distância", comentou Robert Rodriguez, cineasta e fundador da emissora americana El Rey, voltada aos espectadores latinos.
"Elas não gostam de sentir que estão indo para a escola", disse o diretor mexicano-americano.
Para que um seriado como "Jane the Virgin" faça sucesso, terá que encontrar um ponto de equilíbrio delicado: precisará ser específico mas também universal; autêntico, mas sem subestimar a inteligência do espectador.
A atriz America Ferrera, cujos pais emigraram de Honduras para os Estados Unidos, apareceu em "Ugly Betty", seriado baseado na novela colombiana "Betty, a feia". Ela comentou que muitas emissoras "enxergam o público latino como se fosse um bloco homogêneo".
"Há latinos que querem ver séries familiares e há latinos que gostam de 'Sons of Anarchy'", ela comentou. "Não adianta pensar que você vai encontrar uma fórmula que atraia todos os latinos. Você não vai atrair todos."
Antes de fundar a El Rey, Rodriguez contou, "algumas emissoras grandes me procuraram e disseram: 'Você poderia criar um programa hispânico para nós?'".
Mas, segundo ele, o que o público quer é "entretenimento grande, entretenimento familiar que possa ser visto por todos".
Gina Rodriguez disse que sempre procurou evitar papéis que, para ela, reforçam os estereótipos étnicos latinos.
"O mundo da televisão sempre teve essa ideia de que os latinos têm uma história diferente. Mas não há nada em mim que seja diferente", afirmou.
Para a atriz, o que distingue Jane não é o fato de ser "uma garota latina que protege sua virgindade" mas o fato de "Jane ser uma pessoa hipercontrolada e organizada, super Tipo A".
"É um tipo de garota, não um tipo de etnicidade", afirmou a protagonista do seriado.