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    Crítica: 'Força Maior' lança olhar frio sobre uma ameaça de tragédia

    PEDRO BUTCHER
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    16/10/2014 02h13

    "Força Maior" poderia ser facilmente inserido em uma certa linha do cinema europeu contemporâneo que tem no austríaco Michael Haneke seu principal representante.

    Um cinema fundamentado no olhar distanciado, frio (e —por que não dizer logo?— superior), que quase sempre desenvolve seus personagens com um objetivo maior: criticar a sociedade burguesa.

    O diretor, Ruben Östlund, parece seguir a mesma cartilha. A partir de um acontecimento inesperado —uma avalanche que se aproxima perigosamente de um restaurante repleto de turistas, pregando um tremendo susto em quem está ali—, ele observará os efeitos devastadores desse quase-desastre sobre uma família que passa suas férias em um resort de esqui.

    Divulgação
    Cena do filme 'Força Maior', dirigido por Ruben Östlundl
    Cena do filme 'Força Maior', dirigido por Ruben Östlundl

    O problema é que Tomas (Johannes Kuhnke), o marido, quando vê a avalanche se aproximar —uma sequência de alto impacto, logo no começo do filme—, simplesmente pega seu celular e mete o pé, deixando mulher e os dois filhos para trás. Ou pelo menos é o que diz sua mulher, Ebba (Lisa Love Kongsli).

    INCÔMODO

    Num primeiro momento, depois que o risco real de soterramento se revela apenas um susto, nada se diz. Mas fica plantada a semente do incômodo, que virá à tona durante uma conversa trivial, com amigos que também passam as férias no resort.

    Como Haneke, Östlund tem um talento imenso para enquadrar e dirigir seus atores. Como Haneke, também, Östlund lança um olhar frio, microscópico, sobre os acontecimentos em que seus personagens se envolvem.

    HILÁRIO

    Mas há uma diferença que distancia Östlund de Michael Haneke: o humor. Um humor que se embrenha de forma sutil até encontrar seu momento mais brilhante, quando Tomas, o marido, explode num choro dramatizado, daqueles que buscam o perdão, mas que aos poucos se transforma num choro/riso compulsivo, quase hilariante.

    Um humor azedo e doce, que retira o filme dos riscos de um "olhar superior" e o coloca rente a seus personagens, defendidos com absoluta perfeição por seus atores.

    FORÇA MAIOR
    (Turist)
    DIREÇÃO Ruben Östlund
    ELENCO Johannes Bah Kuhnke, Lisa Loven Kongsli, Clara Wettergren
    PRODUÇÃO Suécia, 2014; 16 anos
    AVALIAÇÃO ótimo

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