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    Crítica: 'As Maravilhas' encanta por riqueza sensorial

    PEDRO BUTCHER
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    28/10/2014 02h05

    "As Maravilhas", terceiro longa da cineasta italiana Alice Rohrwacher, é povoado de elementos autobiográficos.

    O filme foi rodado na região onde a diretora cresceu —interior da Itália, entre a Umbria e a Toscana— e tem como protagonistas uma família "duplo sangue" (mãe italiana, pai alemão), que subsiste criando abelhas e produzindo mel.

    Para completar, a irmã de Alice, Alba Rohrwacher, interpreta um dos personagens centrais, a mãe italiana.

    Divulgação
    As atrizes Maria Alexandra Lungu e Agnese Graziani em cena do filme 'As Maravilhas
    As atrizes Maria Alexandra Lungu e Agnese Graziani em cena do filme 'As Maravilhas'

    Mas a cineasta não se fia só nesses elementos comuns à sua infância para conferir autenticidade ao trabalho. É sua capacidade de produzir um sentimento de memória, recorrendo a elementos bastante sensoriais, que torna a experiência desse pequeno filme bastante especial.

    E o que há de precisamente "sensorial" em seu modo de filmar? Um exemplo claro: nas noites mais quentes (o filme se passa no fim do verão), a família vai dormir no jardim. Rorhwacher filma a família banhada pelos primeiros raios de sol da manhã, de forma que não há como o espectador deixar de "sentir" o calor (e o acolhimento familiar) daquela situação.

    Vários outros exemplos pontuarão o filme, como o mel pegajoso que se espalha pelo chão depois de um acidente, obrigando as crianças a se lambuzarem para limpar tudo antes de o pai chegar.

    GRÃOS

    A escolha por filmar em película, na hoje raríssima bitola 16 milímetros, que acentua os grãos da imagem projetada na tela grande, só reforça a sensação de memória.

    Rohrwacher está particularmente interessada na filha mais velha da família, Gelsomina (sim, ela tem o mesmo nome da personagem de Giulieta Masina em "A Estrada da Vida", de Fellini), uma jovem que vive o despertar do desejo sexual ao se interessar por um jovem recém chegado na região -um rapaz que passa por um programa de reinserção social.

    O cenário ganha contornos mais complexos com a chegada de uma equipe de televisão, que realiza no local um reality show chamado "Cidade das Maravilhas", digno da (baixíssima) qualidade da TV italiana. Monica Bellucci, a única atriz conhecida do filme, interpreta a apresentadora do programa.

    "As Maravilhas" consegue combinar diversos temas e situações sem perder o foco: é um filme sobre a passagem da infância para a adolescência, narrado de um ponto de vista essencialmente feminino.
    E que encontra beleza na forma simples com que consegue transformar todos esses elementos em bom cinema.

    AS MARAVILHAS
    (LE MERAVIGLIE)
    DIREÇÃO Alice Rohrwacher
    PRODUÇÃO Itália/Suíça/Alemanha, 2014, 16 anos
    MOSTRA terça (28), às 21h10, no Cine Livraria Cultura; quarta (29), às 15h40, no Cine Sabesp
    AVALIAÇÃO ótimo

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