Sentindo-se traído, o cantor Tim Maia joga pão doce no ex-companheiro de banda Roberto Carlos. Noutra cena, aparece estirado numa poltrona, com as narinas cheias de cocaína, solitário por causa de seu gênio forte.
A cinebiografia "Tim Maia", de Mauro Lima, que estreia nesta quinta (30), retrata a ascensão do maior nome do soul brasileiro, e também seu temperamento explosivo, que o levava a abandonar shows e brigar com os mais chegados.
"A história da vida dele explica muito do porquê de ele achar que só conseguiria as coisas na porrada", diz Lima, que também roteirizou o longa inspirado na biografia "Vale Tudo", de Nelson Motta.
Paprica Fotografia/Divulgação | ||
Babu Santana como Tim Maia, em filme sobre a vida do cantor de 'Me Dê Motivo' |
Dois atores se revezam na pele do cantor, morto em 1998: o paulista Robson Nunes e o carioca Babu Santana. Ambos tiveram aula de canto para interpretar os hits de Tim Maia.
Nunes ficou com os primeiros anos: quando ainda entregava marmitas para ajudar a mãe no bairro da Tijuca, zona norte do Rio, a rivalidade com Roberto Carlos no programa de TV de Carlos Imperial, e a passagem conturbada pelos Estados Unidos, onde conheceu o soul e até foi preso.
"Era a fase em que ele ainda não tinha a postura que todo mundo conhece: de abandonar show, brigar", diz Nunes. "Ainda não se bancava."
Santana pegou a maturidade: o sucesso dos primeiros discos, a partir de 1970, as drogas e o isolamento da fama.
"Imagina o que era ser ele, vendo os amigos galãs cheios de mulheres e ele sem nenhuma. Daí vem o sucesso e aparecem mil garotas", afirma Santana. "Aí ele se revolta."
Apesar de retratar momentos conturbados da vida do músico, o produtor Rodrigo Teixeira diz que não houve ingerência da família de Tim Maia e tampouco do cantor Roberto Carlos, conhecido pelo zelo com a própria imagem.
RACIONAL
A cinebiografia dirigida por Mauro Lima também mostra a breve incursão de Tim Maia pela seita Universo em Desencanto, que rendeu dois discos hoje cultuados —"Racional Vol.1" (1975) e "Racional Vol.2" (1976).
Repletos de alusões místicas a certa imunização racional, foram gravados com a voz do cantor em seu auge, já que ele havia parado de beber e consumir drogas no período.
"Tenho uma teoria sobre aquela fase", diz o diretor Mauro Lima. "Foi uma via que ele achou para policiar a si mesmo. Só que não aguentou aquela privação toda."