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    Crítica: Passagem do tempo encanta em 'Boyhood'

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    30/10/2014 02h34

    A proeza de filmar um elenco ao longo de 12 anos pode ser considerada a maior qualidade de "Boyhood "" Da Infância à Juventude".

    O trabalho, que valeu o prêmio de direção a Richard Linklater no último Festival de Berlim, usa esse esforço de autenticidade para ir muito mais longe do que aparentam as imagens e peripécias de seu enredo prosaico.

    Mamãe, Papai, Samantha e Mason compõem uma família típica. Olivia (Patricia Arquette) cuida sozinha das crianças. Mason (Ethan Hawke), o pai, foi embora, mas reaparece de tempos em tempos para passar tardes agradáveis com as crianças.

    Os filhos Mason (Ellar Coltrane) e Samantha (Lorelei Linklater, filha do diretor) crescem em meio a distúrbios afetivos, violências de um padrasto alcoólatra e mudanças de casas, cidades e escolas. Nada disso, porém, faz deles crianças-problema.

    As disputas entre irmãos, o despertar sexual, o "bullying", as primeiras bebedeiras, a chatice das ordens paternas, a rebeldia calculada junto à falta de noção da adolescência são filmados do modo mais banal possível, o que reitera a trivialidade dessas experiências.

    Como na trilogia "Antes do Amanhecer", "Antes do Pôr do Sol" e "Antes da Meia-Noite", lançada entre 1995 e 2013, o que mais interessa a Linklater é a captura do tempo, algo impalpável e implacável.

    CRESCIMENTO

    Mesmo que a trilha musical matadora e os fatos do contexto remetam ao passado, o filme dirige-se a nós, contemporâneos, que tentamos abolir as demais dimensões da experiência para viver uma espécie de "aqui e agora" perpétuos.

    Mas não se trata de provocar a nostalgia, por meio do crescimento de um garoto que testemunha as mudanças históricas e culturais, como na série "Anos Incríveis", da década de 1980.

    A memória tem pouco lugar na narrativa. "Boyhood" insiste em restituir o dado essencial da existência: o devir.

    O "vir a ser" se confunde com o fluxo da vida, que move a narrativa e ganha corpo nas mudanças físicas de Mason, em vez de se dissipar na forma dramática tradicional dos atos e viradas.

    Assim, a percepção dos ciclos e das repetições brotam quase espontaneamente, oferecendo a oportunidade de contemplar uma aprendizagem que, mesmo simples, não deixa de ser espetacular.

    BOYHOOD - DA INFÂNCIA À JUVENTUDE
    (BOYHOOD)
    DIREÇÃO Richard Linklater
    ELENCO Ethan Hawke, Patricia Arquette e Ellar Coltrane
    PRODUÇÃO EUA, 2014, 14 anos
    AVALIAÇÃO ótimo

    Assista ao trailer de "Boyhood":

    "Boyhood"

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