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    Pinacoteca expõe pintura histórica de Tiradentes esquartejado

    SILAS MARTÍ
    DE SÃO PAULO

    08/11/2014 02h00

    Quando Pedro Américo pintou Tiradentes esquartejado na forca, a cabeça ao lado de um crucifixo e uma perna atravessada por um pedaço de pau como carne num açougue, a reação foi negativa.

    Sua visão sangrenta não se enquadrava na iconografia típica de um herói. Pintor morto aos 62, em 1905, Américo criou essa tela em 1893, um século depois que o líder da Inconfidência Mineira fora enforcado por trair a Coroa.

    Um dos quadros mais importantes na representação histórica do país, "Tiradentes Supliciado" agora está saindo da reclusão. A tela que pertence ao Museu Mariano Procópio, instituição de Minas Gerais fechada por reformas há seis anos, está agora na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, numa mostra com outras peças do museu mineiro.

    Na tela de Américo, que fora o pintor oficial do Império e então se ajustava à República recém-proclamada, Tiradentes aparece como um mártir cristão, todo despedaçado.

    Divulgação
    'Tiradentes Supliciado', tela de Pedro Américo de 1893, agora na Pinacoteca
    'Tiradentes Supliciado', tela de Pedro Américo de 1893, agora na Pinacoteca

    "Esse era o momento em que a figura do herói republicano começava a ser construída", diz Fernanda Pitta, curadora da mostra. "É uma imagem associada à figura de Cristo por ser alguém que se sacrifica por um ideal, quando a ideia de herói nacional passa a ser calcada não em mitos, mas em figuras reais."

    Tão reais quanto um corpo desmembrado. Américo aqui trocava a alegoria nacional por um realismo em sintonia com a pintura europeia do século 19, lembrando o registro cruento da carne do francês Théodore Géricault.

    "Esse realismo está na cabeça decapitada. É uma tela sem floreios nem idealizações", diz Pitta. "Ela desconstrói a figura do herói, que devia ser íntegra e sempre fazer algo edificante. Foi uma inflexão no modo de fazer uma pintura histórica."

    Na mesma sala em que está o Tiradentes, aliás, há exemplos mais tradicionais da pintura histórica do país, com bandeirantes em poses dramáticas diante dos índios.

    Rejeitados pelo Museu Paulista, que havia encomendado a obra, esses quadros entram em choque com a obra radical de Américo, que reinventou o herói com uma violência exuberante.

    COLEÇÕES EM DIÁLOGO
    QUANDO abre neste sábado (8), às 11h; de ter. a dom., das 10h às 17h30; qui., até 22h; até 22/3
    ONDE Pinacoteca do Estado, pça. da Luz, 2, tel. (11) 3324-1000
    QUANTO R$ 6; grátis aos sábados

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