O cinema de exceção praticado pelo diretor francês Philippe Garrel não raro costuma exasperar o público em busca de ação trepidante ou temas edificantes.
Em "O Ciúme", ele persegue o idealismo de uma obra rigorosa, que há cinco décadas sonda os mistérios das relações amorosas sem se confundir com as facilidades do sentimentalismo.
Apesar de fascinado pelos meandros do amor, Garrel recusa-se a objetivá-lo numa trama tradicional ou a usá-lo para chantagear emocionalmente o espectador.
Em vez de uma história convencional, ele prefere filmar fragmentos. "O Ciúme" abre com um plano em que uma mulher chora e se encerra com o olhar melancólico de Louis Garrel, filho do diretor e seu ator-fetiche há uma década.
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Louis Garrel e Anna Mouglalis em cena do filme 'O Ciúme', de Philippe Garrel |
Entre as duas imagens, vemos situações de um casal desfeito e momentos entre amantes que se juntam, mas cuja união logo se revela instável demais para durar.
Além dos pares, Garrel filma os afetos que circulam e expõem cada um às oscilações emocionais dos outros. Uma criança alterna a companhia dos pais separados, um senhor idoso recebe os cuidados de uma jovem, colegas de trabalho trocam experiências e uma garota ganha a atenção de seu irmão mais velho.
No lugar da linearidade, "O Ciúme" segue as intermitências dos personagens e se detêm nas dubiedades. Mostra, com exigência realista, que os sentimentos não são regidos pela lógica ou obedecem a progressão dramática tradicional.
Se tais escolhas podem irritar o espectador em busca apenas de passatempo romântico, elas libertam o filme da necessidade de demonstrar uma lição.
Ao final, em vez de um quadro com figuras e ações definidas, ficamos diante de um desenho abstrato no qual o despojamento é a condição para se alcançar o essencial.
O CIÚME
(La jalousie)
DIREÇÃO Philippe Garrel
ELENCO Louis Garrel, Anna Mouglalis, Rebecca Convenant
PRODUÇÃO França, 2013, 12 anos
AVALIAÇÃO bom